Presidente da República, Jair Bolsonaro fala em democracia apenas para ser politicamente correto, pois é sabido que sua aversão pelo regime democrático é colossal. Democracia compreende um conjunto de coisas e situações, entre os quais o respeito á liberdade de imprensa e o direito ao contraditório, temas pelos quais o inquilino palaciano não nutre qualquer simpatia.
A reportagem do Jornal Nacional, levada ao ar na edição de terça-feira (29) e que noticiou o fato de o nome de Bolsonaro ter sido mencionado em depoimento no âmbito das investigações do caso Marielle Franco, vereadora do PSOL carioca assassinada em março de 2018, levou o presidente a uma reação raivosa e descontrolada, com direito a ofensas e ameaças, postura que não coaduna com o cargo nem combina com democracia.
Entre o que Jair Bolsonaro pensa a respeito da TV Globo e a realidade dos fatos há uma distância considerável, mas naquele momento, na madrugada que avançava na Arábia Saudita, o importante era fazer um discurso capaz de acionar a horda bolsonarista, que em casos como esse insurge como manada furiosa e descontrolada. E o objetivo da assessoria presidencial foi alcançado em poucas horas.
Para a infelicidade geral da nação, parte da sociedade brasileira não mais pensa com o cérebro, mas com o fígado, o que leva à distorção dos fatos de acordo com esse ou aquele interesse.
A forma como Bolsonaro reagiu à reportagem do JN é descabida e não combina com o posto por ele ocupado, que, é importante ressaltar, existe {à sombra de uma liturgia. Ou seja, Presidência da República não é o botequim mais próximo nem o lupanar da esquina.
Como mencionado em matéria anterior, se Jair Bolsonaro sabia do depoimento do porteiro desde 9 de outubro, como ele próprio revelou, que tivesse tomado as devidas providência para esclarecer os fatos e evitar que efeitos colaterais a partir o episódio chegasse à imprensa.
Na verdade, o que Bolsonaro está a experimentar é algo parecido com o próprio veneno, que não chega a ser semelhante porque o depoimento do porteiro do condomínio em que o presidente da República tem dois imóveis consta do inquérito sobre o assassinato da então vereadora do PSL carioca.
Considerando que a Carta Magna estabelece que os cidadãos devem ser tratados com isonomia, independentemente de quaisquer filtros ou condições, que o presidente da República reaja com a mesma fúria quando sua súcia de seguidores e apoiadores divulga nas redes sociais informações mentirosas acerca de adversários políticos e ideológicos. Sempre lembrando que a reportagem do JN não foi pautada por inverdades, mas, sim, por um detalhe grave do inquérito em questão.
Se há na epopeia bolsonarista da vez algum mentiroso, esse é o porteiro do condomínio localizado na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que se comprovado o falso testemunho terá de arcar com as consequências do próprio ato.
Não se pode esquecer, é bom lembrar, que em escândalos envolvendo poderosos a corda sempre estoura do lado mais fraco, como prega a sabedoria popular. Nesse caso, o lado mais fraco é o tal porteiro, que terá de dar explicações às autoridades. Caso mantenha a versão apresentada anteriormente – algo improvável, mas não impossível – a situação há de piorar sobremaneira.
Mesmo avesso à democracia e às liberdades, assim como nutrindo ojeriza em relação à imprensa, Bolsonaro tem o dever, como chefe da nação, de explicar se no Brasil de agora “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”. Do contrário, o Brasil terá dado mais um largo e perigoso passo na direção do totalitarismo.
Resumindo, entre as falsas notícias bolsonaristas e a reportagem do JN, nós, do UCHO.INFO, ficamos com o telejornal da TV Globo, que revelou ao País aquilo que está assentado no inquérito. Ou seja, noticiou a verdade, mesmo que Bolsonaro não tenha gostado, apesar de ter tomado conhecimento dos fatos há pelo menos três semanas.