(*) Ucho Haddad
Para a infelicidade de boa parte da nação, o Brasil tornou-se endereço da supressão da liberdade e do direito à manifestação do pensamento. Quem não reza pela cartilha do extremo-direitismo tupiniquim está fadado a subir no cadafalso da milícia virtual que apoia Jair Bolsonaro, eleito presidente da República a reboque de um mentiroso discurso de combate à corrupção, desde que os integrantes do próprio clã estejam imunes.
Fazer jornalismo sério e comprometido com a verdade em um país como o Brasil de agora – quiçá de sempre – é tarefa hercúlea, talvez missão que beira a impossibilidade. Não é fácil levar à opinião pública uma informação balizada e que fere os interesses dos ocupantes do poder. E essa máxima vale tanto para a esquerda quanto para a direita, pois a essência totalitarista que move alguns poderosos não empunha cangalha ideológica.
Logo após fazer a primeira denúncia de corrupção nos escaninhos da Petrobras, em agosto de 2005, fui alvo da inveja tosca e rasteira de alguns profissionais da imprensa nacional, que, useiros da covardia, acusaram-me criminosamente de ser esquizofrênico. A alegação desses detratores foi que à época, na opinião deles, eu criava a cada dia um novo inimigo no imaginário para ter com quem digladiar. Se a incompetência profissional no campo do jornalismo investigativo leva a esse comportamento, lamento profundamente por esses párias.
O tempo passou e, após muito esforço e insistência de minha parte, o esquema criminoso que funcionava na estatal passou a ser investigado, mesmo que com certo desdém de muitas autoridades, as quais acreditavam que minhas denúncias não eram fundamentadas. Muitos pegaram carona no meu trabalho como jornalista, mas tenho a consciência tranquila de ter agido em prol do Brasil e dos brasileiros. Como sempre!
A partir de então, passei a ser alvo de paparicos de toda ordem, pois meu faro jornalístico interessava a muitos, em especial aos incompetentes de plantão. Como não me deixo levar por elogios, já que meu saudoso pai, engraxate que foi na infância, ensinou-me que “muitas vezes o sucesso de alguém está no brilho do sapato alheio”, passo ao largo de bajuladores. Os que ora me dedicam acusações torpes sequer imaginam o quanto contribui para a elucidação de casos de corrupção, sendo merecedor do reconhecimento até mesmo de alguns investigados, sem contar os elogiosos discursos nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado da República.
Ressalto que não denunciei o esquema de corrupção na Petrobras porque no leme da ação criminosa estavam representantes da esquerda, mas, sim, porque a coisa pública não pode ser tratada da forma como foi. Ademais, importante foi a minha atuação jornalística para ajudar na elucidação do primeiro escândalo da era petista, o Mensalão do PT. Traduzindo para o bom vernáculo, denunciei porque esse é o papel de qualquer jornalista comprometido com a verdade. Tanto é assim, que recusei milionária compensação financeira para não denunciar o esquema criminoso conhecido como Petrolão. Minha família, sempre orgulhosa, sofreu em silêncio as consequências da minha recusa.
É de conhecimento público que defendo a punição exemplar dos transgressores da lei, desde que o julgamento e a eventual condenação se deem à sombra da legislação em vigor. Do contrário estaria assumindo desapreço pelo Estado de Direito e pela democracia.
Diferentemente do que afirmam os que se alimentam no cocho da sorrelfa, não defendo corruptos por nada nem por ninguém, mas cobro de maneira incansável a aplicação da lei em sua inteireza e sem devaneios interpretativos usados para saciar a sanha que embala a perseguição ideológica. Ou seja, não faço jornalismo de encomenda, assim como passo longe do ativismo jornalístico.
Os dementados de plantão que integram as milícias virtuais de agora insistem em me classificar como comunista, esquerdalha e outros adjetivos típicos de quem perdeu a razão e é órfão de argumentos, pois defender o respeito à Constituição e ao Estado de Direito tornou-se um ato revolucionário no Brasil atual. Sequer pensam esses détraqués que o melhor caminho é punir com base na lei do que aviltar a legislação e transformar um criminoso em vítima. E se a Carta Magna estabelece que a formação de culpa se dá apenas com o trânsito em julgado de sentença condenatória, que assim seja.
Restolhos de intelectualidade corrosiva, alguns ousam dedicar-me ofensas pelo simples fato de defender o estrito cumprimento da lei, o que contraria em todas as frentes o desejo de justiçamento alimentado pela canalha direitista. De tal modo, no vácuo do pensamento “dessa gente” – é isso mesmo, “dessa gente” – surgem teorias típicas de bataclã que intentam estabelecer o que é inconstitucional, ou seja, a prisão após sentença condenatória de segundo grau. Às favas o preceito constitucional da presunção de inocência!
Considerando que meus textos incomodam muita gente – a história recente já comprovou isso –, a saída dos desesperados é atacar-me de maneira vil, sem ao menos conhecer a minha realidade profissional e o que aprendi na longa e sinuosa estrada do jornalismo. Agem como se fossem os derradeiros gênios da raça, quando na verdade são delinquentes intelectuais que acreditam ter o direito de esbulhar a honra alheia.
A mais recente investida da turba direitista, defensora do sepultamento das garantias fundamentais do cidadão, foi acusar-me de ter problemas cognitivos, sugerindo tratamento médico urgente. Que o Brasil é um celeiro com 210 milhões de especialistas em todos os assuntos não é novidade para ninguém, mas acusar alguém de estar doente, sem que isso seja verdade, é coisa típica de quem não sabe mais o que fazer diante da lucidez dos meus escritos. Não sou avesso ao contraditório, todos sabem, mas é preciso respeitar o bom convívio até mesmo para discordar.
Engana-se quem pensa que aceitarei calado – ou até mesmo recuarei – ofensas, impropérios e intimidações por defender o que penso e acredito. O adágio popular “quem não tem competência, não se estabelece” deveria servir de mantra para essa manada enfurecida que atenta contra a democracia e ofende o primeiro que surgir com opinião diversa. Para desespero da súcia direitista, minha saúde, física e mental, vai muito bem e manda lembranças. Com a devida licença de Mário Jorge Lobo Zagallo, “vocês vão ter que me engolir”.
A piroseira que embala o pensamento de parte dos brasileiros não me causa temor, pelo contrário, como de igual modo não me preocupam os anátemas disparados pelos ignaros que acreditam ser os deuses da sapiência universal. Tão pequenos são de cérebro e alma, que conseguem a proeza de errar até mesmo quando isso é impossível. Fossem ônticos os meus detratores, até entenderia, mas querer que sejam antológicos é sonhar demais.
Se o meu jornalismo serve para nada, que os incomodados deixem de ler e seguir o que escrevo, pois assim evitarão gasturas e aperreios. No contraponto, desmontando as alegações chulas usadas para denegrir meu trabalho, que alguém explique o que significam 2.971 tentativas de ataque ao portal de notícias que edito, somente no passado mês de outubro. Como diz a sabedoria popular, ninguém chuta cachorro morto. E se pontapés virtuais recebo, mesmo cachorro não sendo, é porque vivíssimo estou e incomodando muito.
Dos que me atacam só resta ter pena, pois além de ignorantes não sabem viver em sociedade e de maneira civilizada. Aliás, beira o devaneio esperar atitude coerente de quem defende agressão física ou verbal como senha para o contraditório.
No brevíssimo “Poeminho do Contra”, o brilhante e saudoso Mario Quintana escreveu: “Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão… Eu passarinho!”
Assim penso, sempre com a consciência tranquila e a sensação do dever cumprido.
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.
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