Em 9 de novembro de 1989, Günter Schabowski, porta-voz do governo da então Alemanha Oriental, anunciou a nova legislação sobre viagens do país numa entrevista coletiva que entrou para a história. Após um mal-entendido, o político respondeu à pergunta de um jornalista sobre quando a lei entraria em vigor com uma frase que se tornaria famosa: “Pelo que sei, ela entra… já, imediatamente”.
A entrevista foi transmitida ao vivo e acompanhada tanto na Alemanha Ocidental como na Oriental. Portanto, logo em seguida, os cidadãos da República Democrática Alemã (RDA), de regime comunista, peregrinaram até a fronteira interna em Berlim. Durante três horas, os guardas de fronteira – que não haviam sido informados do novo regulamento – contiveram o afluxo humano.
Quando a “TV do Oeste” montou suas câmeras e confirmou a sensacional notícia, ficou claro que chegava ao fim a divisão da Alemanha – marcada pela construção do Muro de Berlim, em 21 de agosto de 1961.
Tarde da noite, os agentes de segurança deixaram de fazer resistência, abriram as passagens de fronteira berlinenses e deixaram as pessoas passarem do Leste para o Oeste e vice-versa, sem que fossem controlados.
Inspiração de Gorbachev
Durante meses, milhares de cidadãos da Alemanha Oriental vinham realizando passeatas e exigindo com veemência reformas políticas. As “manifestações de segunda-feira” pelas ruas de Leipzig já tinham se tornado famosas.
Os manifestantes gritavam: “Nós somos o povo!” e “Gorbil! Gorbil!”, referindo-se ao secretário-geral do partido comunista russo, Mikhail Gorbatchev (1931). Desde 1985, ele vinha realizando reformas na União Soviética, numa nova política que os habitantes da RDA também desejavam para si.
Porém, por total falta de espírito reformista, o governo de Erich Honecker (1912-1994) bloqueara as mudanças, precipitando, assim, seu próprio fim.
Em 18 de outubro de 1989, Honecker fora substituído por Egon Kreuz no cargo de secretário-geral do partido e presidente do Conselho de Estado. Porém, nem isso foi capaz de conter a derrocada do governo comunista da RDA.
Em 4 de novembro, cerca de meio milhão de pessoas reuniram-se na praça Alexanderplatz, em Berlim Oriental, para protestar em prol de uma reforma do Estado.
A partir dessa poderosa manifestação, ficou claro que o novo governo não contava mais com a confiança popular. Ao mesmo tempo, tornavam-se cada vez mais fortes as exigências de que se fundissem os dois Estados da Alemanha. Cinco dias mais tarde, o Muro caiu.
Entre o povo e as potências europeias
Algumas semanas após a queda do Muro de Berlim e em meio ao clamor crescente pela reunificação, iniciou-se, às vésperas do Natal de 1989, um intenso tráfego diplomático na RDA.
A França e a Inglaterra, em especial, mostravam receio diante da perspectiva de uma Alemanha grande e economicamente forte, no centro do continente. Elas tentaram, se não impedir, pelo menos subordinar a certas condições políticas a união da República Federal da Alemanha (RFA) e da RDA.
O chanceler federal da RFA, Helmut Kohl, registrou publicamente tais temores num discurso acompanhado pelo mundo inteiro, diante das ruínas da Igreja Frauenkirche, de Dresden, em 19 de dezembro.
Naquela noite, Kohl confirmou, por um lado, a intenção de respeitar a vontade da população da RDA, qualquer que ela fosse. Por outro lado, reconheceu que uma unidade alemã só seria possível “numa casa europeia”. A unidade alemã e do continente eram, portanto, dois lados de uma mesma moeda.
Dessa forma, o chefe de governo rechaçava categoricamente uma Alemanha reunificada neutra, num posicionamento que lhe valeu o aplauso frenético dos cidadãos da RDA presentes.
Ainda assim, dois dias mais tarde, o então presidente francês, François Mitterand, voou para a RDA a fim de evitar uma “anexação” desta à RFA. No início de 1990, o processo de unificação de ambos os Estados alemães foi integrado num processo internacional, o qual considerava tanto os interesses dos alemães quanto os das potências aliadas vencedoras da Segunda Guerra Mundial. (Deutsche Welle)