(*) Carlos Brickmann
Bolsonaro deve ser o presidente da Aliança, partido que está criando para apoiá-lo. Seus filhos Flávio e Jair Renan estarão entre os dirigentes da legenda. Eduardo Bolsonaro, o que foi sem nunca ter sido embaixador em Washington, deve ser líder da bancada federal. Dos filhos do presidente, só um ainda não tem posto definido na Aliança: Carluxo. Mas é certo que todas as confusões e brigas internas terão sua inevitável participação.
E que deseja a Aliança, fora apoiar Bolsonaro – aquilo que outros partidos já fazem sem dar trabalho? Os princípios que apresentou são paupérrimos: nada além do que já constava na propaganda bolsonarista da campanha eleitoral (liberal na economia, conservador nos costumes, contra o globalismo, pela manutenção das raízes cristãs do nossos país, respeito a Deus e à religião). Muita, muita arma: o partido quer o número 38, trezoitão, e seu símbolo foi elaborado com balas (espera-se que já usadas).
Qual a diferença entre a Aliança e o PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu, cuja propaganda se baseava em todos esses motes? Aparentemente, duas: o PSL traz o “S” de Social – embora o Social só seja visível em seu nome – e a Aliança nada tem de Social; e as belas verbas públicas destinadas a partidos e campanhas são controladas pelo dono da sigla, Luciano Bivar, enquanto, na Aliança, o dinheiro que entrar será gerido pela família 000.
Mas alguém ousaria imaginar que fosse esse o motivo da separação?
Jogo no futuro
Bolsonaro terá de organizar o partido para, até março, poder apresentar candidatos. Terá pouco dinheiro público, já que o PSL, pelo qual se elegeu a maioria de seus apoiadores, é o dono das verbas. Mas tem um aliado forte em São Paulo: Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias. Skaf quer ser candidato ao Governo, e precisa de aliados contra o governador Doria.
Adeus, Sobel
Henry Sobel, rabino emérito da sinagoga da Congregação Israelita Paulista, morreu no dia 23, em Miami, EUA. Tive pouco contato pessoal com ele, mas o conheço pela trajetória de vida: nos duros tempos do Ato 5, quando pessoas desapareciam, quando réus compareciam a tribunais carregando marcas de tortura, Sobel teve a coragem de desafiar o arbítrio. A ditadura forjou um suicídio para explicar o assassínio do jornalista Vladimir Herzog. Só que, nos cemitérios judeus, há uma ala destinada aos suicidas. Sobel proibiu que Vlado fosse enterrado ali. Tendo sido morto por tortura, como a Justiça brasileira comprovaria, foi sepultado no lugar devido. Ele coordenou, com o cardeal D. Paulo Evaristo Arns e o reverendo James Wright, o gigantesco culto ecumênico por Vlado na Catedral de São Paulo – ali, protestantes, católicos e judeus se uniram a quem professava outras religiões, ou nenhuma, mas queria a liberdade de volta.
Lutou contra o racismo e a discriminação. Com defeitos, com falhas (e, se não as tivesse, não seria um ser humano normal), que grande figura!
Sobre sua morte, segue abaixo um pequeno texto que escreveu em 2006.
Saindo e chegando
“Imagine que você está à beira-mar e vê um navio partindo. Você fica olhando, enquanto ele vai se afastando, cada vez mais longe, até que finalmente aparece apenas um ponto no horizonte. Lá o mar e o céu se encontram. E você diz: ‘Pronto, ele se foi.’ Foi aonde? Foi a um lugar que a sua visão não alcança, só isso. Ele continua tão grande, tão bonito e tão imponente como era quando estava perto de você. A dimensão diminuída está em você, não nele. E naquele momento em que você está dizendo: ‘Ele se foi’, há outros olhos vendo-o aproximar-se e outras vozes exclamando com alegria: ‘Ele está chegando”. Ainda nos veremos, rabino Henry Sobel.
Próximos tiros
De um lado, a CPMI, que investiga a avalanche de notícias falsas (fake news): nesta terça, à uma da tarde, quem deve depor é o general Santos Cruz, que foi secretário-geral da Presidência da República, derrubado após campanha comandada por Carluxo, filho de Bolsonaro, e por Olavo de Carvalho, seu guru; de outro, o Governo, tentando esfriar a CPMI.
O Governo tenta impedir que outros parlamentares deponham, além de Alexandre Frota e Joice Hasselmann. Tarefa difícil – e talvez inútil, já que, além de parlamentares, gente que trabalhou com Bolsonaro e hoje atua em outros grupos, como Paulo Marinho (hoje com Doria) e Gustavo Bebbiano, podem falar. Eles conhecem, porque estiveram lá.
Caçando confusão
O deputado estadual paulista Frederico D’Ávila, do PSL, quis ajudar o presidente e seus filhos a buscar confusão desnecessária. Ávila convocou ato em homenagem ao falecido presidente chileno Augusto Pinochet, líder de uma ditadura feroz. E ainda, para enganar os colegas, D’Ávila usou o nome Augusto P. Ugarte para marcar o ato.
Não adiantou: o ato foi desconvocado.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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