Na teoria, política não é para amadores (no bom sentido), mas na prática, pelo menos no Brasil, é enorme a quantidade de “paraquedistas” que acreditam ser os últimos gênios da raça em termos políticos. No governo de Jair Bolsonaro, assim como em muitas gestões anteriores, sobram amadores que ousam posar para a foto como os “saberetas” universais.
Como dizia Odorico Paraguaçu, personagem da novela global “O Bem-Amado” interpretado pelo saudoso Paulo Gracindo, “a ingnorância é que astravanca o pogressio”. E na política brasileira o que mais tem é ignorante acreditando ser herdeiro de Aladim. Quem conhece as entranhas da política nacional sabe que essa é a triste realidade.
Um dos desses “saberetas” oficiais é Paulo Guedes, ministro da Economia e apelidado pelo presidente da República como “Posto Ipiranga”. Guedes, cuja crença ideológica muda ao sabor do vento, está encantado com o status de ministro e tem disparado impropérios mundo afora, como se suas declarações ano causassem danos à convalidada economia brasileira.
Na última segunda-feira (25), em Washington, Guedes sugeriu a edição de um novo Ato Institucional nº 5 (AI-5) – instrumento usado a partir de dezembro de 1969 pela ditadura militar para calar adversários – como forma de conter a atuação política de Lula, que após deixar a prisão passou a defender que o povo vá Às ruas para protestar contra o desgoverno de Jair Bolsonaro.
Paulo Guedes precisa retornar ao banco da escola para aprender, com a devida urgência, o estrito significado de democracia e Estado de Direito. Se por um lado o direito ao protesto é uma garantia constitucional, por outro o ex-presidente não sugeriu em momento algum que eventuais manifestantes adotassem o “quebra-quebra” como forma de protesto.
O bom-mocismo do ministro da Economia chega a ser nauseante, pois, embalado pela sabujice, ignora a atuação do presidente da República em favor da divisão da sociedade e da fermentação do discurso de ódio. Essa postura é merecedora de críticas, pois um presidente não pode governar apenas para aqueles que se alinham ideologicamente e defendem um sem fim de pataquadas.
Apenas a título de informação, Bolsonaro e seus tresloucados seguidores convocaram nos últimos meses pelo menos quatro manifestações contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso e a favor do ex-juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça.
A fala irresponsável de Paulo Guedes foi acompanhada pela declaração de que é preciso se acostumar com dólar alto e inflação baixa. Foi o suficiente para o mercado financeiro testar a capacidade do governo de lidar com a valorização da moeda norte-americana frente ao real. Na terça-feira (26), o dólar comercial bateu na casa de R$ 4,27, obrigado o Banco Central a intervir no mercado de câmbio. Mesmo após a incursão do BC, o dólar voltou aos R$ 4,27, fechando os negócios do dia cotado a R$ 4,24.
Nesta quarta-feira (27), às 15h19, a moeda norte-americana era vendida a R$ 4,263, com alta de 0,56% em relação ao fechamento do dia anterior. Isso significa que o mercado está preocupado com a situação política do País, que vem sendo propulsada pelo discurso radical da extrema-direita.
As profecias liberais de Paulo Guedes e dos “Chicago Boys” já começam a produzir estragos na economia, uma vez que a alta do dólar – aposta clara do mercado contra o governo – eleva o preço de alimentos, medicamentos e outros produtos que dependem de insumos importados. Além disso, a Petrobras reajustou em 4% o preço da gasolina nas refinarias, decisão tomada na esteira da alta do dólar.
Apesar de toda essa confusão e dos efeitos colaterais, os quais poderiam ser evitados, Paulo Guedes insiste em dar declarações como se fosse a única pessoa a entender de economia. A questão não condenar as reformas propostas pelo governo – um já foi aprovada – e a busca pelo equilíbrio fiscal, mas de defender que a lógica do pensamento e o bom senso político sejam protagonistas.
Fosse o Brasil um país minimamente sério e o governo tivesse doses rasas de vergonha, Guedes já teria voltado para a praia. Isso só não acontece porque o presidente da República, além de frouxo, tornou-se refém do ministro da Economia. Afinal, as promessas de campanha foram obra do devaneio de quem almejava a vitória a qualquer preço.