Trump despreza Bolsonaro ao anunciar retomada de taxas sobre aço e alumínio do Brasil e da Argentina

Quando o UCHO.INFO afirmou que a decisão do presidente Jair Bolsonaro de se comparar ao homologo norte-americano, o que lhe rendeu a alcunha de Trump latino-americano, a milícia bolsonarista entrou em torvelinho, ao mesmo tempo em que entregou-se às comemorações, como se ser comparado a uma figura tosca e inconsequente fosse um privilégio.

Diferentemente do que acredita a “direita xucra” (o termo é da lavra do jornalista Reinaldo Azevedo), a vergonhosa subserviência de Bolsonaro ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – algo que o Itamaraty classificou como alinhamento ideológico – começa a render dividendos negativos ao Brasil, ao mesmo tempo em que mostra ser o mandatário norte-americano um descumpridor de acordos.

Em publicação no Twitter, Trump afirmou que Brasil e Argentina estão empenhados em desvalorizar as respectivas moedas frente ao dólar, o que prejudica os agricultores norte-americanos. Como contrapartida, Trump anunciou a retomada das tarifas sobre aço e alumínio provenientes de ambos os países sul-americanos.


“A desvalorização não é boa para os nossos fazendeiros”, escreveu Donald Trump, acrescentando que a desvalorização do real e do peso argentino dificulta as exportações americanas. “Fed (Federal Reserve, o banco central americano) precisa agir para que países não tirem vantagem de nosso dólar forte para desvalorizar ainda mais suas moedas”, completou o presidente dos EUAm que promete a retomada imediata das tarifas.

Enganado mais uma vez por um governante estrangeiro, o que confirma o fiasco da política externa brasileira, Bolsonaro reagiu à declaração de Trump afirmando que tratará do assunto com o ministro Paulo Guedes (Economia). Além disso, o presidente brasileiro afirmou que, se necessário, conversará com próprio Trump sobre a polêmica decisão. “Se for o caso, falo com Trump, tenho canal aberto”, disse Bolsonaro.

É preciso que Bolsonaro use esse episódio para reconhecer que populismo barato e discurso direcionado ao eleitorado não funcionam. O que Donald Trump buscou ao anunciar o retorno da tarifação do aço e do alumínio do Brasil e da Argentina foi agradar a parcela do eleitorado americano que continua lhe apoiando. Diante de um cenário de dificuldades, especialmente pelo processo de impeachment, Trump não pensou duas vezes antes de anunciar a medida.

Isso posto, se Bolsonaro tem de fato canal aberto com a Casa Branca, Trump deveria ter telefonado para o Palácio do Planalto e tratado do assunto antes de anunciar publicamente a medida. Esse suposto canal com Washington é obra do imaginário de Bolsonaro, algo que ficou comprovado na meteórica e repentina visita de Eduardo Bolsonaro à capital dos EUA, quando o filho do presidente brasileiro ainda alimentava a esperança de ser nomeado embaixador.