Quando passou a ser questionado sobre questões econômicas, enquanto candidato à Presidência da República, o sempre debochado Jair Bolsonaro disse repetidas vezes ser um néscio no assunto e que por isso havia se aproximado do economista Paulo Guedes, a quem passou a dedicar a alcunha de “Posto Ipiranga”, em alusão ao mote da campanha publicitária de rede de postos de combustíveis.
Guedes, que sempre se apresentou como um liberal em termos econômicos, batendo no peito pelo fato de ser integrante do grupo batizado de “Chicago Boys”, que o acompanha no Ministério da Economia, vem dando mostras que sua especialidade é a teoria, pois quando o assunto é a prática o desastre vem logo a seguir.
No momento em que o governo do então presidente Michel Temer envidava esforços para, em meio à turbulência de denúncias de corrupção, chegar ao seu final, Bolsonaro operou nos bastidores para dar suporte à greve dos caminhoneiros que parou o País e casou sérios danos à economia nacional. Naquele instante, a ordem era instalar o caos com o objetivo de convencer a população acerca do radicalismo direitista como a solução derradeira.
A partir de então, Bolsonaro, que acabou eleito presidente da República, tornou-se refém de uma categoria sem liderança definida e sempre disposta a subir um degrau a mais na escada da radicalização. O primeiro grande erro em relação aos caminhoneiros foi criar uma tabela com valores mínimos de frete – decisão tomada no governo Temer e criticada pelo UCHO.INFO –, como se o liberalismo econômico não pregasse a livre concorrência. Não obstante, a tal tabela veio acompanhada de sanções aos empresários que contratassem fretes abaixo do preço estipulado.
O resultado desse desvario oficial foi o retorno do setor produtivo às frotas próprias, deixando os caminhoneiros novamente à beira da estrada. A solução seria estimular a economia, como um todo, para que o consumo entrasse na seara do aquecimento, o que levaria à demanda por frete. Mas como os políticos têm uma enorme dificuldade para enxergar o óbvio, optou-se pelo mais fácil, pois na ocasião a ordem era “dissipar a fumaça”, quando na verdade o mais importante deveria ser “apagar o incêndio”.
Temendo uma reação dos caminhoneiros, que sempre estão a ameaçar um governo que se deixou fazer refém – o governo Bolsonaro se colocou de joelhos diante da categoria mais de uma vez – a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) publicou nesta quinta-feira (16) nova tabela de frete, com aumento de 15%.
Com as alterações anunciadas pela ANTT, o piso do frete teve aumento de 11% a 15%, sendo que a nova tabela entrará em vigor na próxima segunda-feira (20). Para piorar o que já era ruim, a agência incluiu na tabela algumas mudanças, como, por exemplo, o custo da diária do caminhoneiro (refeições e hospedagem), não sem antes corrigir valores de itens como pneus e manutenção. Todos esses custos serão acrescidos aos valores mínimos do frete.
Por decisão da ANTT, a partir da vigência da nova tabela passa a ser obrigatório o pagamento do chamado “frete de retorno”, quando o motorista fica impossibilitado de transportar outra carga ao voltar para o local de origem. A agência atendeu a uma reivindicação da categoria.
A resolução da ANTT, que acompanha a nova tabela, determina a inclusão dos custos do pedágio no valor do frete. “O valor do pedágio, quando houver, deverá ser obrigatoriamente acrescido aos pisos mínimos”, decidiu a agência.
O consumidor que se prepare, pois o custo dessa decisão, que atenta contra a livre concorrência, acabará no bolso de cada trabalhador, pois com a economia continua em marcha lenta. Paulo Guedes, o economista liberal, simplesmente adotou silêncio obsequioso.