BNDES gastou R$ 48 milhões para abrir a “caixa preta”, mas auditoria não encontrou irregularidades

Jair Bolsonaro ainda estava em campanha pela Presidência da República quando começou a prometer que abriria a “caixa preta” do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), discurso adotado para inflamar o eleitorado e atingir a esquerda, sua maior preocupação na corrida presidencial. Sempre amestrado e acreditando em promessas absurdas, o eleitorado de Bolsonaro imaginou que isso aconteceria com a chegada do então deputado federal ao Palácio do Planalto.

Como se fosse o último dos mosqueteiros, Bolsonaro elegeu-se com um discurso moralizador, que foi esfarelando com o passar dos meses. Mesmo assim, a promessa de abrir a “caixa preta” do BNDES continuava de pé, pois na opinião de Bolsonaro essa ameaça torpe poderia acuar a esquerda nacional no Congresso.

Mesmo sabendo que o BNDES é uma das instituições financeiras do País mais transparentes, talvez uma das mais cristalinas do planeta, o bordão enfadonho foi levado adiante, a ponto de criar uma frente de conflito com o então presidente do banco, o economista Joaquim Levy, apeado do cargo na esteira do mau humor do presidente da República.

Para o posto foi nomeado Gustavo Montezano, amigo dos filhos de Bolsonaro, que ao assumir o comando da instituição prometeu abrir a “caixa preta”, sem saber o que estava a afirmar, mas era preciso agradar o chefe, como se o Brasil fosse uma ditadura clássica, daquelas que na atualidade só aparecem em filmes de época.

O BNDES torrou R$ 48 milhões na contratação de uma auditoria interna, que prometera descobrir as falcatruas levadas a cabo nas gestões anteriores, mas em dezembro passado, após 22 meses de investigação, um relatório apontou a inexistência de qualquer evidência de corrupção em oito operações financeiras com a JBS, o Grupo Bertin e a empresa Eldorado Brasil Celulose, entre 2005 e 2018.

Para realizar a auditoria interna, o BNDES contratou o escritório Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP, com sede em Nova York, que por sua vez subcontratou no Brasil o escritório de advocacia Levy & Salomão.

O relatório resultante da auditoria interna destaca que as decisões do BNDES “parecem ter sido tomadas depois de considerados diversos fatores negociais e de sopesados os riscos e potenciais benefícios para o banco”. “Os documentos da época e as entrevistas realizadas não indicaram que as operações tenham sido motivadas por influência indevida sobre o banco, nem por corrupção ou pressão para conceder tratamento preferencial à JBS, à Bertin e à Eldorado”, ressalta trecho do relatório.

As operações financeiras do BNDES estão disponíveis no portal do próprio banco de fomento, respeitadas as imposições da legislação vigente que protegem o sigilo bancário. Isso significa que só desconhece as transações quem não se interessa pelo assunto. Além disso, falar em “caixa preta”, com fez durante longos meses Bolsonaro, é nivelar por baixo os servidores do BNDES, colocando em xeque a idoneidade de cada um deles.

Confirmada sua eleição, Jair Bolsonaro disse que, tão logo assumisse a Presidência, determinaria “a abertura da caixa-preta do BNDES e revelaria ao povo brasileiro o que foi feito com seu dinheiro nos últimos anos”. Bom seria se Bolsonaro tivesse a mesma coragem e o mesmo ímpeto e revelasse ao povo brasileiro a origem do dinheiro usado no empréstimo (R$ 40 mil) que alega ter feito a Fabrício Queiroz, parceiro do seu filho Flávio na epopeia das malfadadas “rachadinhas”.