Movido pela covardia e por assumida incompetência, o presidente Jair Bolsonaro desistiu de participar do Fórum Econômico Mundial por questões de segurança, segundo informou a assessoria palaciana, como se o encontro não disponibilizasse aos participantes elevadíssimos níveis de proteção. Para o Brasil, a ausência de Bolsonaro em Davos, na Suíça, foi positiva, pois o país livrou-se de mais um vexame internacional, que certamente ganharia as manchetes ao redor do planeta.
Na terça-feira (21), dia em que a ativista ambiental Greta Thunberg e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ganharam os holofotes suíços na esteira de discursos antagônicos sobre meio ambiente, Bolsonaro anunciou, no Brasil, a criação do Conselho da Amazônia, uma cortina de fumaça com a chancela do Palácio do Planalto para desviar as atenções do restante do planeta e não comprometer as exportações brasileiras e a captação de investimentos internacionais.
Somente um incauto, que desconhece o modus operandi do truculento e totalitário governo Bolsonaro, é capaz de acreditar na eficácia do tal Conselho, que, como prega a sabedoria popular, será criado para “inglês ver”, ou seja, um paliativo oficial.
Mesmo que a batuta do Conselho da Amazônia fique com o general da reserva Hamilton Mourão, vice-presidente da República, Bolsonaro é quem dará a apalavra final sobre os integrantes do colegiado, o que por si só é motivo de desconfiança. Se em relação aos temas ligados à Cultura o estrago foi monumental, a ponto de reduzir a verba da pasta em 80%, depois de extinguir o ministério, não é preciso esforço hercúleo do pensamento para adivinhar o que acontecerá na seara do meio ambiente, que sofreu retaliações no primeiro ano do governo Bolsonaro com cortes em órgãos fiscalizadores.
Bolsonaro recebeu durante a campanha eleitoral muito mais do que apoio e “tapinhas nas costas” dos empresários do agronegócio, por isso precisa dar a contrapartida àqueles que apostaram seus tostões em um candidato que alcançou a vitória na esteira da radicalização.
Os primeiros discursos de Jair Bolsonaro envolvendo a Amazônia brasileira soaram como música nos ouvidos dos chamados criminosos do campo, que passaram a invadir terras, derrubar árvores e incendiar áreas que posteriormente são repassadas a fazendeiros. Ou seja, em algum momento o agronegócio, apesar de todas as negativas, assume um dos vértices do polígono criminoso.
Não obstante, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, é um obediente cumpridor de ordens que aceitou afinar seu discurso com o do presidente da República, além de ter sido condenado pela Justiça paulista por fraude em processo do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, em São Paulo. Não custa lembrar que na reta final da campanha Bolsonaro disse: “Sem indicações políticas, faremos um time de ministros que realmente atenderá às necessidades do nosso povo. Podem ter certeza. Vocês podem confiar em nós, porque nós confiamos em vocês.”
Sem contar a demissão do então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, apeado do cargo por divulgar dados sobre desmatamentos no Brasil, considerados pelo governo Bolsonaro como sensacionalistas.
Se Jair Bolsonaro pensa que o anúncio da criação do tal Conselho da Amazônia é suficiente para convencer a comunidade internacional, o melhor que o presidente pode fazer é repensar sua estratégia mambembe, pois questões relacionadas ao meio ambiente exigem resultados concretos.
Por outro lado, Hamilton Mourão parece entusiasmado com a nova incumbência, mas o vice-presidente esquece que já foi alvo da intempestividade e da peçonha de Bolsonaro, que fala sem pensar. Em nota, o gabinete da vice-presidência informou que Mourão elabora, no momento, as “diretrizes adequadas a tão importante tarefa para a Amazônia e o Brasil”.
A criação do conselho “denota a excepcional importância que [o presidente] concede à Amazônia, não somente à sua preservação, como ao seu desenvolvimento de forma sustentada, beneficiando, em particular, os brasileiros que lá habitam e ao país”, completa a nota.
Apenas para complementar, em 2019, mais de 10 mil quilômetros quadrados de floresta foram devastados, aumento de 30% em relação a 2018. Há temores em relação à abertura da Amazônia para a exploração econômica, como vem defendendo abertamente Bolsonaro, o que colocaria sob ameaça reservas naturais e terras indígenas.