Aprendiz de feiticeiro em termos políticos, o ministro Paulo Guedes (Economia), também conhecido nas esquinas brasileiras como “Posto Ipiranga”, parece ter sido infectado pelo vírus do populismo tosco e barato, arma predileta do patrão, o presidente Jair Bolsonaro.
Em Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial, Guedes não corou a face ao afirmar que “a pior inimiga do meio ambiente é a pobreza”. O ministro aproveitou a ocasião para, aliviando a pressão sobre Bolsonaro, dizer que as pessoas destroem o meio ambiente porque “têm fome”. “É um problema complexo, não há solução fácil”, completou Paulo Guedes.
Se há na política algo insuportável, que a parcela abduzida da opinião pública aceita de bom grado, é a desculpa esfarrapada das autoridades. Guedes, que está debutando no cenário político, deveria se envergonhar das próprias palavras, pois a degradação do meio ambiente no Brasil é fruto da conivência espúria do Estado, que assiste passivamente à derrubada das florestas, quando não incentiva essas ações criminosas.
Adotar um discurso oportunista e mentiroso como esse exige dose extra de desfaçatez, pois o presidente da República demonizou os países que aportavam verdadeiras fortunas no Fundo Amazônia, como forma de garantir a não devastação da maior floresta tropical do planeta, sob a desculpa de que potências internacionais estavam querendo se apoderar da região.
Além disso, Bolsonaro, que durante a campanha presidencial recebeu do agronegócio muito mais do que apoio e “tapinhas nas costas”, precisou dar a contrapartida ao setor depois de eleito. Por isso adotou um discurso que soou como valsa nos ouvidos dos grileiros de terras, que, após derrubarem árvores centenárias, atearam fogo em áreas de floresta na Amazônia, que em breve serão entregues a fazendeiros.
Também não se deve esquecer que o discurso de Paulo Guedes em Davos é uma heresia desmedida, pois o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi condenado pela Justiça paulista por fraudar processo do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, em São Paulo. Sem contar que por determinação de Bolsonaro, o então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, foi demitido por divulgar dados sobre desmatamentos considerados sensacionalistas pelo governo.
Resumindo, Paulo Guedes deveria repensar melhor seu discurso, em que pese sua missão de tentar “vender” aos investidores internacionais uma imagem melhorada de um Brasil que está a anos-luz de existir. Até porque, Guedes é conhecido nos escaninhos do mercado financeiro como um teórico de mão cheia.