(*) Carlos Brickmann
Moro é popular, mas está sendo triturado por Pancrácio e Cavalão. Seu tempo de Ministério está contado – a menos que aceite perder a Segurança Pública. Moro já engoliu muito sapo, mas agora disse a amigos que, se for mais uma vez passado para trás, sai do Governo. Mas qual é o problema?
Cavalão é o apelido de Bolsonaro em seus tempos de Exército, pela força física. Pancrácio, nome de um “vale-tudo” grego, que teria sido praticado por Hércules e Teseu, era o apelido de Alberto Fraga, perito na luta, hoje líder da bancada da bala. Fraga e Bolsonaro são amigos há dezenas de anos. E Fraga defende a divisão do Ministério de Moro em Justiça (que ficaria ministro) e Segurança Pública, que ele controlaria – além de controlar a Polícia Federal.
Mas desde quando Fraga manda no Ministério? Desde que o presidente Bolsonaro propôs a secretários estaduais de Segurança, fora da agenda, que o Ministério de Moro fosse subdividido. Fez a proposta, ouviu protestos e elogios, soube da decisão de Moro e já disse que não pensa numa divisão do Ministério. Mas pensa: para agradar o amigo, por achar que Moro quer ser candidato à Presidência, por não tolerar que a popularidade de Moro seja maior que a sua. Bolsonaro adora encontrar conspirações.
Que tal uma em que o ministro da Justiça não toma providências para impedir que Flávio Bolsonaro enfrente os tribunais, nem coloca na chefia da Polícia Federal um homem da confiança do presidente, nem lhe faz declarações de apoio?
Brigas e brigas
Carluxo, filho 02 de Bolsonaro, já acusou Fábio Wajngarten de trabalhar mal – e foi ele que indicou o titular da Secom. Regina Duarte fez uma declaração de que gostaria de selar a paz entre o Governo e os artistas – é justo o que Bolsonaro não quer ouvir, ele que prefere a espada à paz. Logo surgiram ataques a Regina – de um IPTU que ela estaria devendo hoje numa casa vendida há cinco anos. Já o diretor da Secom, além de ser atacado pelo 02, não é defendido por Moro. Mas Bolsonaro disse que ele fica e mais tarde, estudando melhor o assunto, talvez mude.
O ministro do Turismo, acusado de chefiar um laranjal, está bem, sem que ninguém o toque. Aliás, nem Moro.
Saindo da caixa
O problema é que, sendo ministro, Moro fica prisioneiro da candidatura a vice-presidente. Saindo, não faltará quem o ajude a conquistar legenda e a provar que tem quase o dobro das intenções de voto de Bolsonaro. Tudo pode mudar, claro. Mas enquanto não mudar, o jogo é este. Joice Hasselmann se enfraqueceu, aparentemente, ao deixar o bolsonarismo. Mas com uma boa campanha em São Paulo pode crescer de novo. Moro tem mais bagagem.
Na última pesquisa DataFolha, Moro tem 53% de aprovação. Bolsonaro, 30%.
Tentou, falhou
O ex-governador goiano Marconi Perillo tentou habeas corpus, rejeitado. Continua réu em ação penal. É acusado por ter inscrito R$ 317 milhões em restos a pagar, sem a devida provisão de caixa. A descrição é crime contra aas finanças públicas, sujeito à pena de um a quatro anos de reclusão.
Por que no te callas?
Frase autêntica de Jair Bolsonaro: “O índio evolui. Cada vez mais é um ser humano igual a nós”. Este colunista entendeu o que Bolsonaro quis dizer: os índios evoluem e gostariam de ter um padrão de vida igual ao da classe média. Só que não foi isso o que disse.
Falou, morreu
O ex-vice-prefeito de Ourolândia, empresário José Roberto Soares Vieira, foi assassinado no dia 22, com nove tiros, na rodovia BA-522, região metropolitana de Salvador. O assassínio foi filmado e, espera-se, haverá uma chance de identificar os pistoleiros Vieira era a principal testemunha das investigações que levaram à prisão do ex-gerente da Transpetro na Bahia, José Antônio de Jesus. Há dois meses, Vieira prestou depoimento à PF, com todos os dados do esquema criminoso. Entrou imediatamente na lista dos que seriam assassinados.
Uma dúvida: e o programa de proteção a testemunhas?
Guerra pernambucana
O filho e o irmão de Eduardo Campos, herdeiro da dinastia de Miguel Arraes, estão em lados opostos na política pernambucana. Ana Arraes, filha de Miguel Arraes e conselheira do Tribunal de Contas, está ao lado do filho, contra o neto; Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, está ao lado do filho, contra o genro. Tonca, o genro, é bolsonarista; Ana Arraes está ao lado dele, Antônio Carlos Campos.
A briga vinha fermentando há tempos, até que num debate no Congresso, o deputado João Campos fez um ataque ao ministro da Educação, Abraham Weintraub. Weintraub lembrou na hora que o tio de João Campos, Tonca, trabalha na Fundação Joaquim Nabuco, a seu lado – logo, ele, Weintraub, não deve ser uma pessoa tão má assim. João Campos disse que seu tio Tonca é ainda pior que Weintraub. Foi assim que a briga pegou fogo. Tio e sobrinho não se falam.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não representando obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.