Depois de uma semana de demissões e estardalhaços, Bolsonaro desiste da reforma ministerial

Nada pode ser mais utópico do que as declarações dos integrantes do governo de Jair Bolsonaro, que acostumou-se a avanços e recuos, como se esse movimento pendular fosse benéfico ao País. Na última semana, o presidente da República demitiu, recontratou e demitiu novamente o então secretário-executivo da casa Civil, Vicente Santini, jogado aos “leões” da opinião pública por ter utilizado um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para viajar da Suíça à Índia.

Bolsonaro, que classificou o ato como “imoral”, não suportou a pressão das redes sociais depois da renomeação de Santini e ordenou novamente sua exoneração, com direito à demissão do então interino da pasta, Fernando Moura, e a transferência do Programa de Parceria de Investimentos (PPI) da Casa Civil para a Economia.

Com o esvaziamento da Casa Civil, aliados de Bolsonaro começaram a aconselhá-lo a demitir o ministro Onyx Lorenzoni, chefe da pasta, mas um cenário de calmaria tomou conta do Palácio do Planalto com o passar das horas. De início, a ideia era realocar Lorenzoni para o Ministério da Educação, tirando da vaga o polêmico e tresloucado Abraham Weintraub, que foi indicado ao posto pelo próprio Onyx.

Outra solução seria mandar Lorenzoni de volta à Câmara dos Deputados, onde ele reassumiria o mandato parlamentar e passaria a ser líder do governo na Casa legislativa. Nenhuma das ideias prosperou, pois Onyx Lorenzoni precisava recuperar a credibilidade política para assumir nova função. Do contrário, seus atos em novo posto seriam alvos fáceis da classe política.

Jair Bolsonaro sabe, no íntimo, que faz um governo muito aquém do desejável, apesar de posar como último gênio da raça, mas ao mesmo tempo tem consciência que desgastar um aliado de primeira hora, como Lorenzoni, seria atirar no próprio pé. Com o esvaziamento da Casa Civil, Onyx passou a ser um despachante de luxo da Presidência, já que nada restou de importante na pasta desde o início desse (des)governo.

Mesmo diante dessa constatação, Bolsonaro não cogita, por enquanto, levar adiante a cogitada reforma ministerial, segundo informações do ainda ministro da Casa Civil, mas não se pode descartar que isso ocorra dentro de alguns poucos meses. Até porque, o presidente é imprevisível e dono de temperamento explosivo.

Além disso, a eventual demissão de Lorenzoni e Weintraub seria um prato duplamente cheio para a imprensa e para o Congresso. No primeiro caso, o de Lorenzoni, porque Bolsonaro ficaria com a imagem fragilizada e abriria caminho para novos e contundentes questionamentos dos veículos de comunicação, com quem o presidente vem travando intensa queda de braço.

Em relação à demissão de Weintraub, que na opinião do UCHO.INFO já passou da hora, a confirmação dessa “degola” daria margem para que os parlamentares acirrassem ainda mais a prometida investida contra o ministro da Educação, um despreparado que “assassina” a gramática de forma recorrente e recorre ao deboche para dar vazão a uma guerra ideológica insana e irresponsável.

A falta de tato político de Bolsonaro chega a assustar, mas o presidente continua acreditando que governar é um ofício que se leva a cabo aos coices e pontapés. Como sua base de apoio político é tão sólida quanto o leite condensado que despeja com frequência no pão, recuar foi o conselho que lhe deram. Em suma, “está tudo como dantes no quarte d’Abrantes”.