Fundado em 1980, na transição da ditadura para a democracia, o Partido dos Trabalhadores chega aos 40 anos nesta segunda-feira (10), enfrentando a mais grave crise de sua história e avaliando como recuperar o terreno perdido com o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula na esteira da Operação Lava-Jato.
Com a soltura do ex-presidente da República, com base na garantia constitucional da presunção da inocência, que garante ao apenado recorrer em liberdade até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, o partido discute a melhor estratégia para fazer frente ao governo de Jair Bolsonaro, que tem dado à esquerda, desde a chegada ao poder, inúmeras oportunidades de se reinventar.
Atualmente com 1,5 milhão de filiados e a maior bancada na Câmara dos Deputados – empatado com o PSL – o PT surgiu na cena política nacional como plataforma de movimentos sociais e setores variados que lutavam pela redemocratização do País. Sob a liderança carismática de Lula, tornou-se um dos maiores partidos de centro-esquerda do planeta, em um país de território extenso, herança colonial e escravocrata e campeão de desigualdade.
Socialista democrático em sua origem, o PT fez ajustes de rumo após a derrota para Fernando Henrique Cardoso, em 1994, para ficar cada vez mais pragmático, conciliador e aberto a alianças com partidos de centro e de direita, em busca de melhorar a vida dos mais pobres sem ameaçar elites. Um processo que culminou na vitória de Lula em 2002, algo que só foi possível com a decisão de jogar o discurso radical no lixo e aproximar-se de vez e sem qualquer dose de vergonha do capital.
Devidamente instalado no Palácio do Planalto, Lula teve habilidade para reduzir a pobreza, promover crescimento através da expansão do mercado interno e ampliar o acesso à educação superior, cenário que foi impulsionado por um ciclo internacional favorável de commodities.
Quando dava os primeiros passos no Planalto Central na condição de protagonista, o PT foi atingido em cheio pelo escândalo do Mensalão, esquema criminoso de mesadas que garantiu apoio ao governo Lula no Congresso Nacional. Esse episódio jogou ao rés do chão o discurso moralista que o PT adotara até então, ao mesmo tempo em que mostrou ao País aquilo que a apenas a minoria que acompanha a política com mais proximidade já sabia: a corrupção move o poder.
A receita que combinou crescimento econômico, redução da pobreza e articulação política permitiu a Lula deixar o Palácio do Planalto com surpreendentes 87% de aprovação, além de eleger sua sucessora, Dilma Rousseff. Não fosse a decisão equivocada de mergulhar de cabeça na vala da corrupção, algo que se estendeu por boa parte da legenda, Lula certamente teria entrado para a história como um dos mais importantes estadistas do século.
Dilma repetiu o padrinho político e manteve ritmo semelhante até 2013, mas começou a cair em desgraça no momento em que o modelo econômico passou a apresentar os primeiros sinais esgotamento. Foi quando os palacianos passaram a adotar medidas pouco ortodoxas em termos de governança, como, por exemplo, manobras contábeis, desonerações fiscais, controle dos preços dos combustíveis, o que gerou represamento da inflação. Além disso, uma nada inteligente articulação política levou o País a uma recessão histórica e colocou o governo de joelhos diante de um Parlamento sedento por decisões de efeito. Foi no rastro desse quadro explosivo que surgiram os primeiros passos do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
A recessão econômica, que à época era difícil de contornar por conta de medidas irresponsáveis aditadas anteriormente, ganhou impulso à sombra à medida em que surgiam novos escândalos no escopo da Lava-Jato.
O esquema de corrupção envolvendo a Petrobras foi a fórmula encontrada pelo núcleo duro do governo Lula para evitar o desgaste provocado pelo Mensalão. A estratégia, criminosa em sua gênese, era transferir aos aliados a responsabilidade pelos crimes cometidos, o que acabou sendo provado com a eclosão do escândalo. A primeira denúncia sobre o esquema de corrupção na Petrobras foi feita pelo editor do UCHO.INFO em agosto de 2005, sendo que outras tantas surgiram na sequência. Foi preciso muito empenho do jornalista para que a denúncia fosse levada a séria e investigada pelas autoridades, que na ocasião fizeram pouco caso.
Afirmar que o PT será capaz de se reinventar é deveras arriscado, mas oportunidades não faltaram e tampouco faltarão, mas é preciso que os petistas, a começar por Lula, tenham sabedoria suficiente para perceber que é necessário desvencilhar-se da soberba e fazer oposição republicana, não meramente ideológica. Eis o desafio!