Irônico e agarrado à ignorância, Weintraub diz no Senado ser poliglota e que Enem foi um sucesso

Enganou-se quem imaginou que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, poderia ser razoavelmente humilde durante a audiência pública no Senado para a qual foi convidado com o objetivo de dar explicações sobre os erros crassos nos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019. Arrogante e embalado por um discurso meramente ideológico, até porque de Educação nada sabe, Weintraub minimizou as falhas em 5.974 notas. Além disso, o ministro ousou sugerir que o problema também pode ter ocorrido em edições anteriores do Enem.

Durante quase quatro horas, o ministro, que há muito tem sua gestão contestada pela maioria dos parlamentares, atacou seus críticos, afirmou que o primeiro Enem da sua gestão foi um sucesso e deixou a audiência sob protestos de integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), que acompanhavam a sessão.

“Não dá pra afirmar que sim ou que não, mas eu diria que esse tipo de problema pode ter ocorrido, sim, no passado”, afirmou Weintraub, que de forma irresponsável e debochada tratou os erros como “susto” aos candidatos que precisaram ter as notas revistas. O ministro destacou que 5,1 mil alunos foram afetados de fato, pois os demais participaram do exame na condição de treineiros. Não importa como cada um participou do Enem, pois cabe ao Ministério da Educação não cometer erros.

Em mais uma demonstração de ousadia e desprezo ao Congresso, Weintraub disse aos senadores que um dos seus ao participar da audiência era “quebrar a chuva de fake news que novamente se abateu sobre o MEC”.

Weintraub, que acostumou-se a assassinar a gramática com impressionante frequência, deveria dedicar-se a melhorar sua gestão, em vez de gastar o tempo como ministro gravando vídeos galhofeiros para atacar adversários ideológicos.

Em qualquer país razoavelmente sério – não é o caso do Brasil – e com um governo minimamente responsável – não é o caso do governo Bolsonaro –, Abraham Weintraub já teria sido demitido. Apesar de todos os tropeços do ministro, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o presidente da Repúblcia descartam a demissão do titular da Educação. Talvez porque Weintraub reze pela cartilha obtusa de Jair Bolsonaro. Em sinal de prestígio, Weintraub chegou à sala das comissões acompanhado pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que, como se sabe, não se de dica a essas sabujices sem a devida contrapartida.

Queda de braços

Durante a audiência, a temperatura subiu no momento em que alguns senadores decidiram enfrentar o ministro da Educação, que na maior parte do tempo abusou da ironia. Os embates mais tensos ficaram a cargo dos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Fabiano Contarato (Rede-ES). Randolfe afirmou que a “incompetência” é a marca da gestão de Weintraub, ao passo que Contarato disse que o ministro quebrou o decoro no exercício do cargo ao ofender adversários políticos e quem o critica nas redes sociais.

Ao rebater os senadores, Abraham Weintraub afirmou ter o “direito de falar” o que quer. “Sou responsável pelos meus atos. Não ofendo e não roubo”. O pensamento do ministro é de tal forma desconexo, que sua fala não deixa dúvidas a respeito do assunto. É preciso que alguém explique qual é a relação entre ofender alguém e roubar.

Como se fosse o maior nome do planeta na seara educacional, Weintraub expos aos senadores o seu conceito de “educação”. “Educação não é entrar no McDonald’s e pedir a carta de vinho. Ou comer hot dog, comer ‘dogão’ de garfo e faca. Quem come ‘dogão’ de garfo e faca é ridícula. É pedante. Não é educado. Você tem que se comportar no ambiente em que vocês está”, afirmou.

Para um governo que por um triz não nomeou como embaixador nos Estados Unidos um outrora fritador de hamburguer na terra do Tio Sam, Weintraub é a pessoa certa para comandar o Ministério da Educação.

Em outro momento de petulância explícita, o ministro jactou-se por ser fluente e vários idiomas. “Não adianta eu chegar na fila da balsa ou do trem e falar inglês. Meu inglês é muito mais fluente do que dos meus detratores. Falo inglês e espanhol fluentemente.”

Weintraub, que fez carreira na área financeira, afirmou que em por diversas vezes “corrige” técnicos do Ministério da Economia. “Discuto com os técnicos do Ministério da Economia de igual para igual e muitas vezes os corrijo”, afirmou.

O ministro da Educação deveria se envergonhar da própria ignorância em vez de posar de último herdeiro de Aladim, o folclórico gênio da lâmpada maravilhosa. Um cidadão que desconhece a diferença entre assecla e acepipe e confunde kafta com Kafka não merece respeito. Vade retro, Weintraub!