Apesar da defesa de Bolsonaro, ministro da Economia deveria criar coragem e entregar o cargo

A defesa que o presidente Jair Bolsonaro fez do ministro da Economia durante cerimônia de posse do general Walter Braga Netto no comando da Casa Civil, na terça-feira (18), foi algo tão pífio quanto as recentes declarações de Paulo Guedes, que comparou os servidores federais a “parasitas” e afirmou que nos tempos do dólar baixo até empregada doméstica viajava para a Disney.

Para quem se autointitula um liberal em termos econômico, Guedes é o que se pode chamar de delinquente intelectual, mas suas afirmações não fogem ao pensamento da extensa maioria dos integrantes do governo, que sequer se preocupa com os mais pobres. Tanto é assim, que a filha do programa “Bolsa Família” já tem 3,5 milhões de pedidos de benefícios à espera de análise, enquanto que a fila do INSS acumula mais de 1,5 milhão de pedidos de aposentadoria também à espera de análise e deferimento.

O governo Bolsonaro anunciou recentemente a demissão do presidente do INSS, Renato Rodrigues Vieira, que, segundo o Ministério da Economia, teria deixado o cargo a pedido, mas quem conhece as entranhas do poder sabe como isso normalmente acontece. Vieira foi substituído no posto por Leonardo Rolim, então secretário de Previdência, mas nada mudou desde então. O governo também anunciou a contratação de 8 mil militares da reserva para auxiliar na análise dos pedidos de aposentadoria, mas o anúncio ficou no papel. Ou seja, a reforma da Previdência, que só foi aprovada porque o Congresso assumiu não apenas a responsabilidade que lhe cabe, mas também a do Executivo, beneficiou apenas o governo.

Quem tem direito à aposentadoria e precisa do minguado dinheiro – que continue esperando, pois o governo Bolsonaro é uma reunião de incompetentes metidos a gênios, ao mesmo tempo em que o presidente da República, tratado como semideus pela súcia de apoiadores, não pode ser contrariado apenas porque nas urnas eleitorais derrotou a esquerda.

Em relação à reforma administrativa, que Bolsonaro prometeu enviar ao Congresso nesta semana, ficou para depois do Carnaval. Até porque, a estratégia do governo para aprovar a matéria é estrangular a máquina pública como forma de pressionar deputados e senadores. Em outras palavras, o espetacular presidente da República quer sacrificar o cidadão para, criando um cenário de penúria social, sensibilizar o Parlamento.

Ao defender o ministro da Economia, a quem dedicou a alcunha “Posto Ipiranga”, Bolsonaro disse: “Se Paulo Guedes tem alguns problemas pontuais como todos nós temos, e ele sofre ataques, é muito mais pela sua competência do que (por) possíveis pequenos deslizes. E eu já cometi muitos, muitos no passado”.

Guedes é um conhecido teórico em termos de economia, algo mais do que provado ao longo do primeiro ano do (des)governo de Jair Bolsonaro. Afinal, o ministro disse com todas as letras que o crescimento econômico seria retomado com a aprovação da reforma da Previdência, o que não aconteceu. E o UCHO.INFO afirmou diversas vezes que isso não aconteceria. Desde que chegou ao comando da Economia, Paulo Guedes não se preocupou uma só vez em aliviar o calvário vivido pelo brasileiro diuturnamente. Teve tempo para focar em questões que fez a alegria dos especuladores, os quais o aplaudem e bajulam em palestras promovidas por entes financeiros.

Sobre os “problemas pontuais” de Paulo Guedes, como disse o presidente, uma pessoa que depende de declarações bizarras para conseguir estar no noticiário não tem condições de avaliar o comportamento do ministro nem arriscar um diagnóstico. Nesse quadro é difícil saber quem é mais irresponsável em termos de economia: Guedes e Bolsonaro. Mesmo sabendo que nesse quesito o presidente já assumiu publicamente ser um ignorante.

Mas Bolsonaro foi além ao defender o “Posto Ipiranga”. Disse o presidente que o ministro não pediu para deixar o cargo, ao contrário das informações que circularam com força e velocidade no final de semana. “O Paulo Guedes não pediu para sair. Aliás, eu tenho certeza que, assim como ele é um dos poucos que eu conheci antes das eleições, ele vai continuar conosco até o nosso último dia”, disse Bolsonaro.

Guedes vinha reclamando do chamado “fogo amigo”, mas deveria fazer um “mea culpa” e reconhecer que suas declarações são recheadas de imbecilidade. Mas a soberba o impede de atitude que exige doses de humildade. Para se ter ideia da sua arrogância, quando perguntado sobre a discriminatória declaração sobre “as domésticas na Disney”, Paulo Guedes respondeu que usou um tom professoral para analisar o câmbio. Apenas a título de informação, o editor do UCHO.INFO foi professor universitário e jamais usou esse tom discriminatório ao proferir palestras.

Paulo Guedes, tivesse vergonha, já teria pedido demissão não é de hoje, pois muitas vezes foi desautorizado pelo próprio presidente da República. Só não o fez até agora porque o status de ministro lhe abre portas e dá direito ao foro especial por prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado. Como o titular da Economia é investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por gestão fraudulenta em processo de captação de R$ 1 bilhão junto a fundos de pensão de estatais, nada melhor do que integrar um governo como o de Jair Bolsonaro, que atropela a lei, a democracia e o Estado de Direito ao bel prazer.