A tecnologia na sociedade capitalista atual e as promessas não cumpridas

(*) Rizzatto Nunes

Faz já muitos anos que fala dos avanços da tecnologia, como se suas descobertas e criações fosses mesmo capaz de resolver todos os problemas da humanidade. E ela está em todos os setores: nas indústrias em geral, nas pesquisas científicas, na administração da saúde, na medicina etc.

Há alguns dias, fui visitar um escritório num desses prédios modernos da capital paulista. Cadastrei-me na entrada e pediram-me que passasse minha mão numa espécie de scanner. Depois daquilo, andei pelo prédio ultrapassando as catracas apenas colocando minha mão cadastrada nos aparelhos. Poxa, que moderno…

De fato, a tecnologia nunca foi tão marcante, abundante, rápida, eficaz.

Será?

Proponho uma reflexão. Esse modelo de desenvolvimento está mesmo no rumo certo? E o avanço tecnológico, fruto do capitalismo globalizado, trouxe ou trará melhor qualidade de vida e bem estar para todos?

Ficarei longe de números, pois seria muito desanimador. Eles mostram que a resposta é bem negativa: grande parte da humanidade passa fome, a violência é extraordinária, milhões de pessoas sofrem no mundo todo por causas que deveriam ter sido extirpadas há muito tempo e não foram etc., um longo etc.

Mas, a tecnologia pode nos iludir. Ela tomou um rumo incrível. Por exemplo, são projetados automóveis, ônibus e caminhões de transporte que não precisam de motoristas…

É, realmente, um motorista é algo que atrapalha, não é?

Aliás, os veículos que ainda podem ser dirigidos por motoristas são superpotentes: são capazes de andar a 200 Km por hora, 250Km por ora. A única dificuldade, é que não se pode acelerar acima dos 120Km… (Já cuidei desse assunto aqui, falando dos “automóveis fora da lei”.).

E os tais drones. Aeronaves não tripuladas. Algumas muito eficientes tornaram-se armas perigosíssimas, como mostrou os EUA no ataque de janeiro em Bagdá. Como se sabe, nessa investida foi morto o comandante da força de elite iraniana Al-Quds, o general Qassem Soleimani.

Tecnologia de ponta!

Já existem casas inteligentes, que abrem e fecham janelas automaticamente, acendem a apagam luzes do mesmo modo e, também, o aparelho de ar condicionado e outras coisas mais.

Sério?

Pra que isso serve mesmo? Descansar os braços?

Na medicina os avanços são incríveis. Por exemplo, no mercado da aparência, a medicina estética e cosmética reforma os corpos das pessoas de muitas formas. Na odontologia também.

Na oftalmologia os avanços são realmente sólidos: uma operação para curar a miopia demora alguns minutos com plena eficácia. O mesmo se dá na operação de catarata. Ótimo.

Não queria falar de números e não vou, mas claro que esse tipo de procedimento não é para todos e seu preço é bem salgado.

Agora veja meu caro leitor: acima afirmei que na área da medicina os avanços são incríveis.

E a direção desses avanços. O Caminho estará certo?

Todos os anos milhares de pessoas morrem por causa de gripe. Sim, uma simples gripe continua matando.

O surto recente que envolve o coronavírus com origem na China mostra que os avanços da ciência não são tantos assim.

Análises publicadas revelaram que 80% do material genético do novo vírus é igual ao da SARS (Síndrome respiratória aguda grave) – um outro tipo de coronavírus, responsável por provocar um surto da doença em 2002 e 2003.

Isto é, em pleno século XXI, os vírus matam as pessoas como matavam no século XX, XIX etc. Aliás, os mosquitos também continuam transmitindo doenças e matando, como é o caso da dengue.

A China, mostrando toda sua potência, construiu um hospital em apenas 10 dias. Realmente incrível. Mas, o “bichinho” que infecta as pessoas não se incomoda com essa engenharia fantástica…

Não sou pessimista, mas realmente, não sei se o caminho da ciência está sendo bem trilhado!

(*) Luiz Antônio Rizzatto Nunes é professor de Direito, Mestre e Doutor em Filosofia do Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Livre-Docente em Direito do Consumidor pela PUC-SP e Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo.