(*) Carlos Brickmann
Trump proibiu a entrada nos EUA de passageiros da União Europeia, declarou estado de emergência, liberou US$ 50 bilhões para que cidades e estados combatam o coronavírus, o Federal Reserve Bank lançará US$ 1,5 trilhão para enfrentar os problemas econômicos trazidos pela pandemia.
O primeiro-ministro israelense Netanyahu fechou as fronteiras do país: de onde quer que venha, o viajante terá de passar por 14 dias de quarentena e convidou o principal líder da oposição, Benny Gantz, para um governo de união nacional para combater o coronavírus. E Netanyahu teve de disputar três eleições contra Gantz (duas delas empatadas) para manter-se no poder.
Argentina e Bolívia proibiram voos provenientes da Europa. Em todos os casos, o objetivo é reduzir o risco de entrada de novos contaminados.
No Brasil, o navio de turismo italiano MSC Fantasia, o segundo maior a operar no país, com capacidade para 5.700 passageiros, atracou nesta sexta em Maceió. O governador alagoano Renan Filho proibiu os passageiros de passear na cidade. Mas os passageiros foram passear. “Passeios curtos”, dizem as empresas de turismo receptivo. Mas Renan Filho age como se houvesse proibição: diz que os pacotes de passeios no Estado foram suspensos e suspensos ficarão.
Algo mais?
Orlando, nos Estados Unidos, fechou os parques temáticos, sua principal atração turística. Aqui, o presidente Bolsonaro disse que o coronavírus era superestimado pela imprensa – e só aceitou a existência da pandemia quando seu secretário da Comunicação, Fábio Wajngarten, foi contaminado. Por isso o presidente decidiu fazer o teste, que deu negativo – ainda bem.
Mas mesmo assim houve confusão: a Fox News, ligadíssima a Trump, disse que Eduardo Bolsonaro havia informado que o pai tinha contraído o vírus. Eduardo nega, põe a culpa nos horrendos jornalistas, mas a Fox confirma: disse, sim. A Fox pertence a Rupert Murdoch, direita total. Deve achar Bolsonaro meio petista.
E a economia?
Trump disse que salvará as empresas americanas feridas pela pandemia (imagine uma empresa aérea, pagando aluguel de aviões, pagando lugar nos aeroportos, proibida de voar para seu principal destino). No Brasil, quais os planos para enfrentar a crise? Paulo Guedes, no Congresso, foi raso, causou decepção – não por anunciar medidas que talvez não funcionassem, mas por praticamente não anunciar nada. Disse (e tem razão) que é preciso aprovar rapidamente as reformas. OK, como diria o presidente. Mas a reforma administrativa está nas mãos de Bolsonaro há quase quatro meses, a reforma tributária nem está proposta, e além disso, mesmo aprovadas exatamente como o Governo quiser, mesmo que sejam ótimas, não terão efeito imediato.
Até lá, como evitar a quebra das empresas atingidas pela crise? Será liberada em abril a metade do 13º, uma tentativa de manter o consumo aquecido até que a epidemia se esgote. Fala-se em gastar R$ 5,1 bilhões no combate ao coronavírus. Mas ainda procuram onde achar esse dinheiro.
Mudança à vista
O general Luiz Eduardo Ramos, secretário do Governo, está em baixa: foi quem negociou com o Congresso aqueles R$ 30 bilhões do Orçamento. Não agiu sozinho: Bolsonaro aprovou a negociação. Mas, em seguida, voltou-se contra ela e chegou a apoiar a manifestação que deveria ocorrer hoje. Enfim, os parlamentares não confiam mais no general, não por duvidar de sua palavra, mas por achar que não tem força junto ao presidente para mantê-la.
Já se falava em tirá-lo. E agora há um bom motivo para a substituição: um velho amigo de Bolsonaro, o deputado Alberto Fraga, líder máximo da Bancada da Bala, foi absolvido num processo e, inocentado, gostaria de estar ao lado do Cavalão – apelido carinhoso que dá ao presidente, Aliás, gostaria mesmo de estar na Secretaria do Governo, a do general Luiz Eduardo Ramos.
Atenção
Presos em Brasília, dirigentes do PCC, o Primeiro Comando da Capital, ameaçam entrar em greve de fome para protestar contra a quantidade e a qualidade da comida que lhes é servida. O principal líder do PCC, Marcola, está lá, mas dizem que é contra a greve de fome. O problema é que ocorreu algo semelhante em São Paulo, no Governo de Cláudio Lembo, quando o PCC se rebelou e mandou matar policiais nas ruas. Teme-se nova rebelião.
Viva a Globo
O PT e partidos que gravitam ao redor detestam a Globo, que chamam de Globolixo e outros nomes pouco educados. Agora, dizem que a Globo nada divulgou sobre manifestações pelo 8 de março, Dia Internacional da Mulher. O presidente Bolsonaro e militantes que gravitam ao redor detestam a Globo, que chamam de Globolixo e outros nomes pouco educados. Acusam a Globo de dizer que o presidente havia convocado a marcha de hoje (que depois suspendeu). Se os dois lados a criticam, a Globo deve estar sendo imparcial.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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