15 de março, o dia da coragem

(*) Maria Lucia Victor Barbosa

O 15 de março ficará na história como símbolo da coragem de um povo. Coragem, porque a pandemia do coronavírus não impediu que milhares de brasileiros fossem às ruas para exercer sua cidadania.

Tudo começou há anos com uma manifestação difusa, mas que já demonstrava insatisfação popular com seus governantes. Tais atos se sucederam e culminaram com a grande manifestação que desencadeou o impeachment de Dilma Rousseff, a pior presidente de toda história brasileira, aquela que conduziu o Brasil a uma profunda e nefasta recessão. Como disse Ulysses Guimarães: “político só tem medo de povo na rua” e, foi assim, que o Congresso ouviu a vontade popular e a obedeceu.

Outras manifestações aconteceram. Todas pacíficas, ordeiras, organizadas não artificialmente com teor ideológico por partidos ou sindicatos, mas pelo que chamei de Quinto Poder, aquele que acontece através das redes sociais e que ainda não foi bem compreendido por grupos de chamados intelectuais ou da mídia.

Estes grupos disseram que a megamanifestação de 15 de março era inconstitucional. Creditaram ao presidente da República a convocação de tal movimento espontâneo e popular, como se o povo continuasse a mercê de um líder político. Depois, como de hábito criticaram o presidente.

É verdade que as imensas multidões se mostraram fiéis ao seu voto, depositado por quase 58 milhões de eleitores em Jair Bolsonaro. Mas, as manifestações teriam ocorrido de qualquer maneira, pois, inclusive, foi feito ouvidos moucos quando o presidente pediu que tais atos públicos fossem adiados.

Não me lembro onde os defensores da Constituição estavam quando Lula da Silva convocou o “exército de Stédile”, para defendê-lo.

Tampouco, não vi reclamação quando magistrados, entre eles o ministro Sergio Moro, foi e continua sendo ameaçado pelas hostes petistas ou quando José Dirceu, cujo lugar é na prisão junto com seu chefe, fez vídeos concitando a população a uma insurreição, como se o PT ainda tivesse capacidade de levar alguém às ruas, nem mesmo pagando a incautos participantes chamados jocosamente de “mortadelas”.

Lula foi ingrato com a mídia que sempre o glorificou, na medida em que clamava diuturnamente contra os meios de comunicação e, inclusive, vinha há anos pedindo sua censura. Diante disso, silêncio total.

A estupenda manifestação de 15 de março não foi mostrada em jornais e TVs. Inútil omissão. Pelas redes sociais vídeos desfilaram a impressionante afluência de pessoas que lotaram as ruas de várias capitais, especialmente, em São Paulo, quando a Av. Paulista se tornou um mar de gente vestida de verde e amarelo a exercer sua liberdade de reunião, de expressão e de pensamento.

Certamente, não foi um bando gigantesco de fascistas a clamar de modo inconstitucional contra o STF e o Congresso, que desafiaram o coronavírus e se reuniu em espaços públicos.

Na verdade, não eram os Poderes constituídos em si o objeto do clamor popular, mas o que deles fazem seus componentes. O povo se cansou das traições à Constituição, da morosidade dos julgamentos, dos favorecimentos por interesses de amizade e outros mais, dos vaivéns do STF.

Quanto ao Congresso Nacional tem solapado necessidades e direitos sociais com suas pautas bomba, que retiram do Executivo a possibilidade de usar o orçamento em favor da nação. E ganância parece não ter fim quando suas excelências destinaram bilhões para o Fundo Eleitoral, a ser pago com o dinheiro do povo.

A reforma da Previdência, que nenhum governo fez foi retalhada e longamente adiada em discussões estéreis, mas agora suas excelências pedem urgência no envio das reformas Tributária e Administrativa, como se tivessem pressa ou interesse em votá-las.

O projeto anticrime do ministro Sergio Moro foi deixado de lado, porém, foi criada a Lei do Abuso de Autoridade (leia-se é proibido prender) e, nesse caso é compreensível, porque vários parlamentares precisam se defender já que estão sendo processados por crimes como: falsificação de documentos, lavagem de dinheiro, peculato, corrupção ativa e passiva, concussão. Por tudo isso e muito mais, congressistas têm ido contra os interesses de quem os elegeu.

Desse modo, quando os presidentes do Senado e da Câmara aparecem com discurso de bom-moço, atribuindo ao presidente da República culpa pela falta de entendimento entre os Poderes, depois de sabotar as iniciativas governamentais e os interesses do povo, este entende e repudia.

Os mais exaltados pedem o fechamento do Congresso e do STF. Mas não foi isso que realmente levou milhares às ruas. Como escreveu o notável jornalista J.R. Guzzo: “Os congressistas brasileiros são, eles mesmos, uma dificuldade quase insuperável para quem, honestamente, quer defender o Poder Legislativo”.

Portanto, o recado das ruas foi dado em 15 de março: comportem-se senhores legisladores, estamos cansados de sermos passados para trás e lembrem-se: eleições vão acontecer.

(*) Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, professora e escritora, autora de, entre outros livros, “Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – a ética da malandragem” e “América Latina – em busca do paraíso perdido”.

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