Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta afirmou, durante entrevista coletiva concedida na tarde desta quarta-feira (25), que permanece no cargo, mas sua declaração não foi convincente porque deixou brechas para uma eventual saída, seja por vontade própria ou por decisão do presidente da República.
Mais cedo, Mandetta, em conversa com aliados e assessores, descartou a possibilidade de adotar o “isolamento vertical”, proposto pelo presidente Jair Bolsonaro e que colocaria em situação de resguardo pessoas com mais de 60 anos e com doenças pré-existentes.
A preocupação de Bolsonaro com a economia é insana e se igual a das autoridades italianas, que cometeram o mesmo erro antes de a pandemia do novo coronavírus promover um enorme estrago no país europeu, onde há por enquanto 74 mil infectados e 7,5 mil mortos pela Covid-19.
Bolsonaro sabe da necessidade de salvar vidas, mas insiste no tema econômico porque seu interesse está em pavimentar o caminho que lhe permita chegar em 2022 com chance de concorrer à reeleição. Por conta dessa queda de braço com o presidente da República, que insiste no confronto com governadores e prefeitos das grandes cidades, Mandetta decidiu modular o discurso.
Na entrevista para atualizar o quadro do coronavírus no País, o ministro da Saúde disse que busca um entendimento com os governadores para que a flexibilização do isolamento social aconteça de forma gradual e de acordo com a evolução do número de casos. Ou seja, a proposta de Luiz Henrique Mandetta é flexibilizar o isolamento simultaneamente à eventual queda no número de casos confirmados.
Se o próprio ministro disse recentemente que o sistema de saúde – público e privado – colapsará em abril, é porque até lá o número de casos confirmados só tende a aumentar. Sendo assim, falar em flexibilização do isolamento social é devaneio de ocasião ou disposição para rasgar o próprio discurso.
Durante a entrevista, membros do Ministério da Saúde informaram que o Brasil tem até o momento 2.433 casos confirmados do novo coronavírus e 57 mortes registradas. Considerando que o presidente do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, Sidney Klajner, disse em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” que para caso do novo coronavírus diagnosticado existem outros 15 sem diagnóstico. Isso significa que o Brasil tem ao menos 36 mil casos, o que permite concluir que o número de mortes deve crescer de forma exponencial a partir de agora.
Alguém pode afirmar que a afirmação do médico Sidney Klajner é demonstração de alarmismo, mas ressaltamos que autoridades italianas da área da saúde afirmaram há dias que no país o número de casos de coronavírus é pelo menos dez vezes maior do que o anunciado oficialmente.
Como no Brasil as autoridades de saúde se recusam desde o início da pandemia a fazer o teste para o novo coronavírus em todas as pessoas que buscam os hospitais públicos com vários sintomas da Covid-19, o real número de casos continua incerto. Se o Brasil testasse pelo menos as pessoas suspeitas – a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todos sejam testados –, com certeza o número de casos confirmados já teria ultrapassado a marca de outros países rotulados como centros da pandemia. Resumindo, o que o governo brasileiro vem fazendo é induzir a população a erro, situação que torna-se ainda pior com as irresponsáveis declarações de Jair Bolsonaro.
De igual modo alguém pode afirmar que trata-se de alarmismo de nossa parte, mas basta recorrer ao bom-senso e à coerência, da mesma forma que fazem os membros do Ministério da Saúde durante as ziguezagueantes entrevistas coletivas. Se em Portugal, cuja população é menor do que a da cidade de São Paulo, há 2.995 casos do novo coronavírus confirmados e 43 mortos, até esta quarta-feira (25), como o Brasil, com 210 milhões de habitantes e um presidente tresloucado, tem apenas 2.433 casos? Para quem não se importa em ser enganado, o governo Bolsonaro é um convite irrecusável.