Bolsonaro insiste em dar as costas ao bom-senso e faz papel ridículo ao usar Donald Trump como “muleta”

 
Em meio às várias estultices que tem disparado para tentar impor seu pensamento acerca das medidas para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro tem recorrido a argumentos absurdos, muitos dos quais se desmontam no próprio fato. O que confirma nossa afirmação de que o presidente não tem competência e preparo para ocupar cargo de tamanha relevância e responsabilidade.

A mais nova desculpa, que envergonha qualquer brasileiro de bem e com massa cinzenta em pleno funcionamento, é que o presidente Donald Trump estaria adotando nos Estados Unidos medidas semelhantes às de Bolsonaro, como, por exemplo, a flexibilização do isolamento e o retorno programado dos cidadãos ao trabalho.

No momento em que os EUA se transformam no novo epicentro global da pandemia, causa espécie o presidente brasileiro fazer tal declaração. É sabido que Bolsonaro dedica tietagem explícita ao inquilino da Casa Branca, mas poderia poupar o Brasil de vexames dessa envergadura, já que não é essa a realidade que domina a cena na terra do Tio Sam.

É verdade que, assim como o homólogo brasileiro, Trump de chofre tratou com zombaria a pandemia do novo coronavírus, mas o discurso do presidente dos EUA foi mudando à medida em que crescia de forma exponencial o número de infectados no estado de Nova York. Tal cenário explica o embate acalorado entre o governador Andrew Cuomo, muito elogiado pela opinião pública local, e Donald Trump por conta da epidemia, que transformou a cidade de Nova York, a mais rica do planeta, em palco do caos.

 
Bolsonaro, na condição de político, tem o direito de adular e até imitar Donald Trump, mas como chefe de Estado não pode fechar os olhos para a realidade nem agir como “papagaio de pirata”. Primeiro porque nesse momento deve prevalecer os mandamentos da ciência, não o “achismo” ideológico da “direita xucra” e sempre radical. Em segundo lugar, as medidas que Trump eventualmente adota servem para os norte-americanos, não para os brasileiros.

Para provar que essa tietagem rastaquera de Bolsonaro não serve para justificar suas atabalhoadas decisões na órbita do coronavírus, os EUA, por meio de sua Embaixada em Brasília, solicitaram que todos seus cidadãos deixassem o País logo após o irresponsável pronunciamento à nação feito pelo presidente brasileiro na última terça-feira. Isso significa que se as medidas defendidas por Bolsonaro fossem eficazes e semelhantes às adotadas por Trump, como o próprio presidente afirmou, não haveria necessidade de a Embaixada americana divulgar comunicado como o mencionado.

Em relação à flexibilização do isolamento social, Bolsonaro comete novo e monumental equívoco a tentar arrastar Trump para o olho do furacão, pois o presidente dos EUA já defende publicamente que as pessoas permaneçam em casa como forma de conter a expansão do contágio pelo vírus da Covid-19.

No tocante à volta programada dos cidadãos ao trabalho, Jair Bolsonaro induz a opinião pública a erro ao tratar do tema e também ao sugerir que os EUA seguem o mesmo caminho, já que o governo americano e o Congresso local aprovaram a injeção de US$ 2 trilhões na economia do país. Se os cidadãos americanos fossem retornar à labuta dentro de alguns dias, não haveria razão de despejar R$ 10 trilhões na economia dos EUA.

Existir, por si só é um ato que exige coerência. Estar no comando de uma nação exige não apenas coerência, mas bom-senso, parcimônia, competência, talento e muita informação. E Bolsonaro simplesmente desconhece esses ingredientes. Sendo assim, só resta concluir que a assessoria palaciana falha de forma recorrente ao não municiar o presidente da República com informações ou, então, em tempos de coronavírus resolveu lavar as mãos mais uma vez e deixar o barco ir a pique.