Quando o UCHO.INFO afirma que o Ministério da Saúde camufla as informações sobre a pandemia do novo coronavírus não se trata de figura de retórica, mas de constatação da realidade. Se a imprensa brasileira aceita esse espetáculo covarde e acintoso com tranquilidade, este portal de notícias não se cala diante do escárnio oficial.
No último sábado (21), o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, fez um apelo antes de encerrar a entrevista coletiva para atualizar os dados sobre o coronavírus no País. Gabbardo pediu para que nessa guerra contra o vírus causador da Covid-19 cada um faça sua parte. Ficando em casa e evitando aglomerações.
“Estamos chegando em um momento difícil. Todos nós temos que ter uma decisão e um engajamento pessoal. Cada um de nós terá que fazer sua parte, com calma, tranquilidade. Não adianta ter pânico”, disse o secretário-executivo.
Até recentemente, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendia o isolamento social como forma de conter o avanço da pandemia do coronavírus. Além disso, o ministro sugeriu ao presidente da República para permanecesse em quarentena de 14 dias enquanto não realizasse o segundo teste para o coronavírus, mas foi ignorado.
Depois do irresponsável e delirante pronunciamento de Jair Bolsonaro à nação, em que o presidente da República mais uma vez tratou com zombaria a questão da pandemia, Mandetta foi pressionado e acabou mudando seu discurso. Na entrevista coletiva de quarta-feira (25), o ministro descartou a possibilidade de deixar o cargo e afirmou que era preciso rever a questão do isolamento social, pois na sua opinião houve exagero por parte de governadores e prefeitos.
“Temos que melhorar esse negócio de quarentena, não ficou bom. Foi precipitado, foi desarrumado. A última quarentena foi em 1917. É normal, faz parte dessa situação, nós errarmos, calibrarmos e fazermos projeções um pouco fora e questionáveis por A, B ou C. A quarentena é um remédio extremamente amargo e duro”, disse Mandetta.
Essa mudança de oratória, que só pode ser classificada como ato de covardia, resultou da pressão exercida por Bolsonaro, que continua agindo com irresponsabilidade diante de algo extremamente grave. O presidente prefere priorizar a economia em detrimento da saúde da população. Isso porque em jogo está seu projeto de reeleição.
No tocante a João Gabbardo, seu discurso também mudou, talvez em razão dos efeitos colaterais da pressão exercida pelo presidente da República. O secretário-executivo do Ministério da Saúde, que há dias pediu à população para que fizesse sua parte e permanecesse em casa, agora sugere que as pessoas devam fazer caminhadas nos parques. “Não é recomendação do Ministério da Saúde que pessoas não possam andar no parque. Por que as pessoas ficarão socadas no apartamento, se podem caminhar no parque?”, disse o secretário-executivo do Ministério da Saúde”, disse Gabbardo nesta quinta-feira (26).
Ora, o secretário-executivo sabe que as principais cidades brasileiras fecharam os parques públicos para evitar aglomerações. Gabbardo sabe também que entre essas cidades estão São Paulo e Rio de Janeiro, onde o presidente da República tem dois figadais inimigos políticos: João Dória Júnior e Wilson Witzel, respectivamente. Por isso foi obrigado a adequar seu discurso à vontade do tirano e populista Bolsonaro.
Ainda sobre a fala anterior de Gabbardo… Se, de acordo com o secretário-executivo, cada cidadão deve fazer a parte que lhe cabe nesse luta contra o novo coronavírus, que alguém explique a decisão do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, (GSI), Augusto Heleno, e do chefe da ajudância de Ordens, Major Cid, que retornaram ao trabalho no Palácio do Planalto seis dias após testarem positivo para o novo coronavírus, quando a recomendação era de que permanecem em quarentena por duas semanas.
O brasileiro, para infelicidade geral da nação, é obcecado por um herói de aluguel. Até recentemente, o dono do posto era o ex-juiz Sérgio Moro, ministro da Justiça, que rasgou a legislação vigente no País para abrir caminhos aos seus anseios políticos. Agora, o herói da vez é Luiz Henrique Mandetta, que começa a decepcionar, mesmo que a opinião pública ainda não esteja enxergando a dura realidade.
Por razões políticas, Bolsonaro insiste em priorizar a economia, mandando às favas a saúde da população. Mandetta, que também tem interesses políticos, fez esse recuo condenável para manter-se no cargo, pois, seguindo orientações do seu partido, o Democratas, deixar o cargo no atual momento seria assumir responsabilidades e reconhecer a derrota. De tal modo, o ministro preferiu dizer que continua à frente da pasta e que sua eventual saída do cargo só acontecerá por motivo de doença ou por decisão do presidente da República.
Enquanto o jogo político se desenrola no tabuleiro da Covid-19, a população pende entre alçar Luiz Henrique Mandetta ao panteão dos heróis e acreditar que Jair Bolsonaro é o último gênio da raça. Triste Brasil!