Após ofensas, jornalistas deixam entrevista de Jair Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada

 
Jornalistas que acompanhavam, nesta terça-feira (31), a costumeira entrevista que Jair Bolsonaro concede todos os dias à saída do Palácio da Alvorada, sempre com direito a incursões delirantes e ofensas, deixaram o local da entrevista após o presidente da República mais uma vez estimular seus apoiadores a hostilizarem e xingarem os repórteres.

De acordo com a agência Reuters, a reação ocorreu após jornalistas questionarem o presidente sobre a postura do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem contrariado várias declarações de Bolsonaro sobre a pandemia do novo coronavírus. Na segunda-feira (30), por exemplo, Mandetta disse que a população deve seguir as orientações dos governos estaduais. No sábado, o ministro já havia reforçado a importância do isolamento social.

As declarações de Mandetta contrariam frontalmente as absurdas ideias defendidas por Bolsonaro, que tem atacado de forma covarde e irresponsável as medidas adotadas pelos governos estaduais contra a pandemia e minimizado os riscos do vírus causador da Covid-19.

Bolsonaro reagiu à pergunta sobre o ministro da Saúde insuflando a claque de apoiadores que marca presença diariamente em frente ao Palácio da Alvorada. Um dos apoiadores começou a gritar que a imprensa “colocava o povo contra o presidente”.

 
A partir de então, Bolsonaro passou a incentivar o apoiador a falar e mandou que os jornalistas ficassem quietos. “É ele que vai falar, não é vocês não”, disse o presidente, que em situações de dificuldades sempre recorre a um estúpido de plantão.

Com o aval do presidente, os apoiadores começaram a ofender os jornalistas, que acabaram deixando do local. De acordo com a Reuters, Bolsonaro ficou inicialmente surpreso com a reação dos repórteres, mas também aproveitou para ironizá-los.

“Mas vão abandonar o povo? Nunca vi isso, a imprensa que não gosta do povo”, gritou Bolsonaro aos jornalistas que se mantinham afastados.

Antes de assumir a Presidência da República, Bolsonaro já estimulava atitudes hostis contra a imprensa. Na posse, os organizadores do evento criaram uma série de dificuldades ao trabalho dos jornalistas, limitando sua locomoção entre os diferentes prédios públicos de Brasília.

Ao longo do primeiro ano de governo, Bolsonaro ainda pediu o boicote de publicações críticas ao seu governo. Redes de apoio ligadas à sua família também promovem regularmente ataques e disseminam mentiras sobre jornalistas. Há pouco mais de três semanas, no mesmo dia em que o crescimento tímido do PIB de 2019 foi anunciado, Bolsonaro escalou um humorista para distribuir bananas para os jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada.