Flexibilizar o isolamento sem testagem em massa é colocar os vulneráveis ao coronavírus na fila da morte

 
Em meio à crise que separa o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Luiz Henrique Mandetta, o Ministério da Saúde recomendou que municípios, o Distrito Federal e estados que implementaram isolamento social horizontal – ou isolamento social ampliado – migrem para o distanciamento social seletivo, no qual apenas os chamados grupos de risco permaneçam isolados (pessoas com mais de 60 anos e com doenças pré-existentes).

Esse processo de migração poderá acontecer a partir de 13 de abril nas cidades em que os casos confirmados da Covid-19 não tenham comprometido mais de 50% da capacidade do sistema de saúde. A recomendação está no boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde na segunda-feira (6).

“A partir de 13 de abril, os municípios, Distrito Federal e Estados que implementaram medidas de Distanciamento Social Ampliado (DSA), onde o número de casos confirmados não tenha impactado em mais de 50% da capacidade instalada existente antes da pandemia, devem iniciar a transição para Distanciamento Social Seletivo (DSS)”, destaca trecho do boletim.

 
O Ministério da Saúde define o distanciamento social como: “Estratégia não limitada a grupos específicos, exigindo que todos os setores da sociedade permaneçam na residência durante a vigência da decretação da medida pelos gestores locais. Esta medida restringe ao máximo o contato entre pessoas”.

Por outro lado, a pasta define o distanciamento social seletivo da seguinte forma: “Estratégia onde apenas alguns grupos ficam isolados, sendo selecionados os grupos que apresentam mais riscos de desenvolver a doença ou aqueles que podem apresentar um quadro mais grave, como idosos e pessoas com doenças crônicas (diabetes, cardiopatias, etc.) ou condições de risco como obesidade e gestação de risco. Pessoas abaixo de 60 anos podem circular livremente, se estiverem assintomáticos”.

A proposta do Ministério da Saúde é uma temeridade, pois flexibilizar o isolamento é colocar a camada mais vulnerável da população na fila da morte. No momento em que os “não vulneráveis” são autorizados a circular livremente, os vulneráveis passam à condição de alvos potenciais do novo coronavírus por conta da movimentação e da interação de pessoas possivelmente infectadas.

Não há como apostar nesse modelo de isolamento sem ao menos fazer uma testagem em massa com o objetivo de descobrir o percentual da população que até o momento foi infectado pelo vírus causador da Covid-19. Somente com testes em larga escala é possível definir uma data para essa estratégia, que só foi anunciada por pressão do presidente Jair Bolsonaro, um ignaro confesso que tenta sair dessa crise como salvador do universo.