(*) Carlos Brickmann
É na hora da crise que as pessoas se revelam: dá para ver quem é bom, quem é mau, quem é ótimo. Bom é o pessoal da Lupo, famosa por suas meias. A fábrica estava parada – mas seus donos arranjaram tudo para manter boa distância entre os operários chamados a trabalhar, desenvolveram a máscara de proteção e estão trabalhando, por enquanto abastecendo as unidades de saúde da região de Araraquara. Maus são altos funcionários do setor público, que recebem ótimos salários, multiplicam-nos com penduricalhos e não desistem de um único centavo para a luta contra o coronavírus. Mantêm carros, jatinhos, todas as mordomias, e garantiram uns aos outros que na verba deles não se mexe.
Bons são os empresários (190, até agora) que assinaram manifesto se comprometendo a não demitir até maio e pedindo que, além disso, o empresariado faça doações para a sobrevivência de pessoas como manicures, vendedores de lanches e outros que não têm como pagar as contas. Entre as empresas que assumiram este compromisso, estão Magazine Luiza, Renner, BTG, Natura, Boticário, XP. Itaú, Bradesco e Santander estão no grupo (mas mostram seu lado mau mantendo os juros no alto).
E, dizem os empresários, demitir é mau negócio, custa caro. Pior, ao demitir ajudam a perpetuar a crise que lhes dá prejuízo.
Ótimos são médicos e enfermeiros que, mesmo aposentados, voltaram à ativa e enfrentam o risco do vírus lutando para salvar vidas. Sejam louvados.
Bom exemplo
Ótima é a dra. Andrezza S. Guedes – CRM 145443, Instituto Salute de Medicina Integral, tel. (19) 9 8447-8089. Ela se propôs a orientar moradores de um condomínio de Vinhedo, SP, sobre a necessidade de ir ou não a postos de saúde ou hospitais. Por telefone, avalia situações de doenças diversas. Se a pessoa toma regularmente remédios que necessitam de receita e não tem agora como pedi-la a seu médico, ela faz o contato e dá a receita. Atende por fone, WhatsApp, orienta sobre medidas preventivas e cuidados gerais. Seu objetivo é desafogar ao máximo as unidades de saúde, para que seus colegas tenham mais tranquilidade no atendimento. Que bom exemplo de médica dedicada à saúde! Fez o juramento, e o cumpre. Ela autorizou a divulgação de seu nome e celular. Quem precisar, que a procure, more onde morar. Que outros profissionais sigam este exemplo: sempre é possível ajudar os outros.
Mau exemplo
Talvez Suas Excelências não tenham percebido. Mas, se perceberam, que maldade! Desempregados que buscam emprego há mais de um ano, mas que tinham emprego no longínquo 2018, não têm acesso aos R$ 600,00 (que um dia, cremos, será pago aos que têm melhor sorte). A lei foi aprovada assim e Bolsonaro não vetou essa parte. Quem ganhou R$ 28.559,71 em 2018 (pouco mais de R$ 2 mil mensais) também fica fora mesmo estando desempregado há mais de um ano. Os parlamentares não se preocuparam. Nem Bolsonaro.
Chose de loque
E Bolsonaro? O caro leitor decide se é bom ou mau. Em conversa com pastores, que foram pedir-lhe uma linha de crédito para igrejas, disse que o coronavírus “não é tudo isso que estão pintando”. Motivo: “o Brasil tem uma temperatura diferente”. Garantiu que não sabe de hospital algum lotado (São Paulo construiu dois hospitais de campanha para ampliar as vagas), desafiou os governadores a ir a Ceilândia e Taguatinga, perto de Brasília, “no meio do povo”. Completou: “Tá com medinho de pegar vírus?” Bom ou mau?
A saúde e a política
Bolsonaro prometeu não demitir o ministro Mandetta no meio da guerra. De que guerra fala? Da guerra ao coronavírus, na qual adota comportamento contrário ao recomendado pelo Ministério da Saúde? Guerra pela reeleição?
O presidente disse que o ministro sabe que ambos “não estão se bicando”. Mas levou uma pancada forte: Rosângela, esposa do ministro Sérgio Moro, apoiou Mandetta publicamente. “Entre a ciência e o achismo, eu fico com a ciência (…) Mandetta tem sido o médico de todos nós e minhas saudações são para ele”. Ambos, Moro e Mandetta, estão com popularidade superior a dele. É possível que Bolsonaro tema que decidam disputar 2022 contra ele.
Eleição, se houver
Marta Suplicy (sem partido), entrou no Solidariedade, de Paulinho da Força. O PT a convidou, mas ela preferiu outro partido para ser indicada, em aliança, para a vice do candidato petista à Prefeitura paulistana – se houver eleição neste ano. Marta gostaria de ser vice de Haddad, que foi subsecretário de Finanças em sua administração. Marta foi uma boa prefeita, criou em São Paulo os CEUs, escolas públicas de tempo integral e alta qualidade, lançou o Bilhete Único de Ônibus. Haddad foi o responsável por um apelido que a marcou: “Martaxa”. Ele vivia tendo ideias a respeito de novas taxas e impostos, e a prefeita, que aceitou suas ideias, levou a culpa de tudo.
Mas há um problema para a formação da chapa Haddad-Marta. Ele não quer ser candidato à Prefeitura. Lula acha que pode convencê-lo.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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