Bolsonaro veste a capa do falso bom-mocismo e envia mensagem de autoria desconhecida a Dias Toffoli

 
Quando participou do protesto no último domingo (19), em que apoiadores pediram um novo AI-5 e o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro disse “não queremos negociar nada”. “Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil”, disse Bolsonaro em um dos trechos do seu irresponsável discurso.

“O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder”, completou o presidente da República diante de uma ensandecida turba de aduladores.

Bolsonaro é um populista barato que flerta com o totalitarismo diuturnamente, por isso estica a corda de forma insistente para testar a resistência dos outros dois Poderes constituídos. Ao ser avisado de que cresce sobremaneira a possibilidade de ser alvo de um processo de impeachment, o presidente vestiu a capa do falso bom-mocismo, na esperança de enganar o Congresso e o STF.

Que ninguém acredite nas palavras mentirosas de alguém que exalta a memória de um torturador – no caso o finado Carlos Alberto Brilhante Ustra –, pois em marcha continua o projeto obscurantista de dar um calo de pau na democracia brasileira.

 
Sobre a intervenção militar solicitada pelos apoiadores, Bolsonaro saiu pela tangente em mensagem de autoria não identificada e enviada ao presidente do STF, ministro Dias Toffoli, afirmando que “toda manifestação é justa e garantida em nossa CF, portanto vão para as ruas, mas tenham uma pauta real, objetiva, com foco na missão”. Ora, essa afirmação serviu para o próprio presidente da República justificar sua participação em ato que atenta contra a democracia e o Estado de Direito.

Além disso, a mensagem enviada a Toffoli destaca: “Aqueles que pedem Intervenção Militar (Art. 142) ANTES, devem decidir qual General ocupará a cadeira do Capitão Jair Bolsonaro”. É um direito do presidente se fazer de desentendido, mas ficou claro na manifestação do último domingo que seus apoiadores pediram intervenção militar com Bolsonaro no poder. E só não ouviu quem não quis.

A mesma mensagem enviada pelo presidente enfatiza: “Não ataquem Presidência, Supremo ou Congresso, mas aquilo que você julga que deve ser mudado”. Em outro trecho, Bolsonaro encontrou espaço para sua conhecida dissimulação: “Unam esforços, o povo quer um Brasil diferente do que temos ainda, mas para isso deve escolher suas pautas, e também suas armas democráticas”.

Esse recuo de Bolsonaro se deve ao fato de que, além da possibilidade concreta e iminente de um processo de impeachment, alguns deputados federais são alvo de investigação do STF por suposto envolvimento na organização do protesto que teve lugar na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília, onde o presidente escancarou sua gênese autoritária. Caso a investigação conclua que tais parlamentares, todos bolsonaristas, organizaram o evento, um processo de cassação será o passo seguinte. Por isso Bolsonaro tenta colocar água na fervura, como se no Congresso e no Supremo só existissem parvos.

É preciso que alguém imponha limites ao presidente da República, antes que a democracia brasileira vá pelos ares. Está mais do que evidente que o plano de Bolsonaro é transformar o Brasil em um reduto da insanidade ultradireitista. Essa intenção fica clara na decisão de enviar ao ministro Dias Toffoli mensagem de autoria supostamente desconhecida, como se os apoiadores que se aglomeraram diante do QG do Exército no último domingo fossem defensores ferrenhos da liberdade e do Estado de Direito. Ajam enquanto é tempo!