Enquanto Bolsonaro condena o isolamento social, ministro da Saúde descarta afrouxamento da medida

 
Então ministro da Saúde, o ortopedista Luiz Henrique Mandetta foi apeado do cargo porque defendia o isolamento social como principal arma no combate ao novo coronavírus, que no Brasil, até esta quinta-feira (30), já contaminou 85 mil pessoas e deixou 5.901 mortos, sem contar os óbitos cujas causas estão sob análise. Os números são os divulgados pelo governo, mas por conta da subnotificação de casos de Covid-19 em todo o País, a quantidade de infectados e mortos pela doença certamente é maior.

Enquanto famílias se desesperam com o avanço da doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2, no governo há uma guerra de discursos oficiais envolvendo o isolamento social. Populista de quinta e sempre pronto para contrariar a ciência e os especialistas em saúde pública, o presidente Jair Bolsonaro insiste em defender o fim do isolamento, alegando que a população quer voltar ao trabalho. O chefe do Executivo confunde o que cobra sua horda de apoiadores e com o que defende a maioria da sociedade, que continua preferindo o isolamento a enfrentar as UTIs dos hospitais e a morte.

Nesta quinta-feira, Bolsonaro voltou a criticar governadores e prefeitos que adotaram o isolamento, alegando que a medida em nada contribuiu para reduzir o número de mortes. O presidente afirmou que o isolamento não conseguiu achatar a curva do novo coronavírus, como previsto.

“Até porque, repetindo: 70% da população vai ser infectada. E, pelo que parece, pelo que estamos vendo agora, todo empenho pra achatar a curva praticamente foi inútil. Agora, a consequência disso? O efeito colateral disso? O desemprego”, disse Bolsonaro, em sua enfadonha live semanal.

 
Mesmo condenando o isolamento, o presidente não apresentou dados comprovando que não houve qualquer benefício decorrente das medidas restritivas adotas nos estados e nos municípios. Ou seja, Bolsonaro não desistiu de politizar a tragédia.

Provando mais uma vez que é movido pela delinquência intelectual, Bolsonaro retomou o discurso de que a população deseja retornar ao trabalho, como se priorizar a economia e em detrimento do salvamento de vidas fosse possível.

“O povo quer voltar a trabalhar. Todo mundo sabe que quanto mais jovem, menos problema de ter consequência danosa infectado pelo vírus, né? A pessoa abaixo dos 40 anos de idade, dos infectados com alguma outra comorbidade, em torno de 0,2% apenas que o fim é trágico”, disse.

Enquanto o presidente da República despeja suas conhecidas estultices sobre a opinião pública, o ministro da Saúde, Nelson Teich, que continua perdido no cargo, disse nesta quinta-feira que a flexibilização do isolamento social está descartada enquanto casos do novo coronavírus estiverem em “franca ascensão”. Como o próprio ministro afirmou não saber quando a Covid-19 atingirá seu pico no Brasil, é impossível prever o momento do início da flexibilização do isolamento.

Tão logo Teich tomou posse, a primeira pergunta que surgiu entre os profissionais de imprensa que cobrem o cotidiano da política nacional foi quanto tempo o ministro duraria no cargo. A questão é uma só: por mais que Nelson Teich não tenha a mesma eloquência de Mandetta, suas decisões são tomadas com base em dados científicos, até porque ele é médico de formação. No contraponto, Bolsonaro dá de ombros para a ciência e detesta ser contrariado. A conferir!