Raí critica duramente Bolsonaro e sugere que presidente renuncie para evitar processo de impeachment

 
A defesa que o presidente Jair Bolsonaro fez do retorno do futebol no mês de maio repercutiu negativamente no meio esportivo, como era de se esperar. Sempre priorizando a economia e deixando de lado vidas humanas, Bolsonaro quer a retomada dos campeonatos futebolísticos, sob a alegação de que a chance de os atletas contraírem o novo coronavírus é muito pequena em razão da condição física. A teoria do presidente é tão insana quanto absurda, pois há registros de atletas saudáveis e jovens que foram a óbito por conta da Covid-19.

Diretor-executivo de futebol do São Paulo FC, o ex-jogador Raí deixou de lado o discurso sempre polido e livre de declarações polemicas para criticar de forma contundente o presidente da República, sugerindo inclusive que Bolsonaro renuncie ao cargo.

O dirigente esportivo disse que a renúncia seria o melhor caminho para poupar o País de um novo processo de impeachment, algo quase inevitável por causa da insistência de Bolsonaro em reabrir a economia em meio ao avanço descontrolado da pandemia.

“Se perder a governabilidade, torço e espero uma renúncia para evitar o processo de impeachment, que sempre é traumático. Porque o foco tem de ser a pandemia. (O impeachment) não é uma coisa que tem de se pensar agora, energia nenhuma pode ser gasta nisso, mas se estiver prejudicando ainda mais essa crise gigantesca de saúde, sanitária, tem de ser considerado”, disse Raí ao Globoesporte.com.

O ex-atacante criticou duramente a forma como Bolsonaro vem combatendo a pandemia de Covid-19. “Um posicionamento atabalhoado, é o mínimo que se pode dizer. Naquele momento, por exemplo, que ele deu aquele depoimento em rede nacional… Ele está no limite, muitas vezes, da irresponsabilidade, quando ele vai contra todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde”, disse Raí.

 
O dirigente do SPFC esclareceu que sua irritação com Bolsonaro não se deve apenas à maneira como o presidente trata a pandemia e as milhares de mortes provocadas pela doença no Brasil, mas também à forma como administra o País.

“Outro absurdo do Bolsonaro é inventar crises políticas ou de interesses próprios, familiares, no meio de uma pandemia. É inaceitável. Tenho certeza que muita gente concorda comigo, inclusive alguns apoiadores do Bolsonaro. Ele foi eleito democraticamente, mas a própria democracia está conseguindo frear”, continuou.

Raí afirma que o Tricolor é contra o retorno precoce do futebol brasileiro, apesar da delicada situação financeira do clube, cenário enfrentado pela maioria das agremiações.

“É bom deixar claro e reforçar que a posição do São Paulo não é voltar rápido. É voltar ao seu tempo, com as orientações, e gradativamente, começando obviamente o treino sem uma data certa de quando o campeonato vai retornar”, afirmou.

Longe do estilo equilibrado que marca suas entrevistas, Raí foi direto ao ingressar na seara política e questionar a eficácia do presidencialismo. “Eu acho que isso me fez até questionar o presidencialismo, como sistema de governo. Estar sujeito a uma pessoa como essa, a um presidente como esse, que foi eleito democraticamente, mas que toma decisões que confundem completamente a população… Por causa dele, e aí o cálculo pode até ser feito, milhares de mortes a mais vão acontecer”, afirmou o dirigente.