(*) Carlos Brickmann
Midas, rei da Frígia, nação situada onde hoje é a Anatólia, na Turquia, foi um grande mito dos tempos antigos. Tinha um filho famoso, ciumento do pai, de quem se considerava protetor; seu apelido era Ceifador de Homens, por decapitar aqueles de quem desconfiava (talvez Ceifador de Homens tenha ainda outro significado, mas como saber quase três mil anos depois?)
Midas, o Mito, pediu aos deuses o dom de transformar em ouro tudo o que tocasse. Dizem que os deuses, quando querem destruir alguém, atendem a seus pedidos. Midas ficou feliz: transformou uma árvore em ouro, tocou a espada e a tornou de ouro. De volta ao castelo, o primeiro problema: abraçou sua filha e ela se transformou em ouro. Toda a comida virou ouro e ele não conseguia alimentar-se. Os vinhos que apreciava ouro se tornaram. Sozinho, com fome e com sede, apelou novamente aos deuses, que pelo jeito jamais estavam muito longe dele; e a bênção foi retirada para que ele sobrevivesse.
Mas Mito é Mito: Pã, o deus do pé de cabra, desafiou outro deus, Apolo, para um duelo de flauta. O deus Tmolo foi o juiz e deu a vitória a Apolo. Midas se irritou e desafiou o supremo magistrado. Apolo, indignado, fez com que as orelhas de Midas se transformassem em orelhas de burro. Midas passou o resto da vida usando turbante, ocultando de seus súditos as orelhas de burro que ganhara. Estas, não houve milícia de deuses que as removesse.
Esta coluna não é só política. Trata também de História. Que se repete.
O Mito e os mitos
O Mito de Midas é lembrado até hoje. Britney Spears, no sucesso Radar, diz que procura “um homem com o toque de Midas”. Em Act my Age, Katty Perry diz: “Dizem que tenho de perder meu toque de Midas”. E o contrário também vale: cita-se muito o Rei Sadim (Midas ao contrário), que tudo o que toca vira lixo. Botou a mão, estraga. Nem a Namoradinha do Brasil escapou.
Regina, volte!
Este colunista jamais viu uma novela na vida (nem um capítulo inteiro de alguma). Sempre tive, porém, muita simpatia por Regina Duarte, reforçada em poucos contatos pessoais. Mas a entrevista à CNN, em que teve chilique ao receber mensagem amigável de Maitê Proença, em que menosprezou a tortura (“Sempre houve tortura”. “Não quero arrastar um cemitério de mortes nas minhas costas. Sou leve, sabe? Tô viva!”), e usou estilo bolsonariano ao falar dos assassínios da ditadura (“Cara, desculpa, eu vou falar uma coisa assim: na Humanidade, não para de morrer. Se você falar ‘vida’, do lado tem ‘morte’. Por que as pessoas ficam ‘oh, oh, oh!’? Por que?!”) não é digna da Regina Duarte que admiramos. Por que mudou, mudou por que?
O poder, mesmo sem mandar
Regina é hostilizada por uma ala do governo e foi desautorizada pelo próprio Bolsonaro, que manteve na sua Secretaria pessoas que ela quis demitir e não abriu caminho para seu diálogo com artistas. Entre a Secretaria e a imagem, escolheu perder a imagem. E vai perder a Secretaria.
Confessar…
Por que o presidente Bolsonaro resiste tanto em entregar ao Supremo o vídeo da reunião em que, segundo informação de Sérgio Moro, ele teria dito que iria intervir na Polícia Federal? Bolsonaro já disse que Moro mentiu. Não há melhor oportunidade de provar que o adversário é mentiroso.
Por que Bolsonaro resiste tanto a mostrar seus exames de coronavirus?
…jamais
Tancredo Neves, um sábio da política, dizia que um segredo só pode ser guardado se ninguém mais o conhecer. Se dois souberem, vai-se espalhar. E uma reunião de Ministério, fora o pessoal que grava o vídeo, fora os seguranças, tem bem mais que duas pessoas. Nunca falta um fofoqueiro.
Dizem que o problema não é exatamente o que Bolsonaro disse a Moro, nem o vocabulário que utilizou. Mas parece que se queixou da China, usando o mesmo vocabulário. E atribui-se a Abraham Weintraub a declaração mais perigosa: o ministro da Educação teria se referido aos onze ministros do STF com palavrões. E é precisamente um desses ministros que vai ver o vídeo.
Quanto aos exames de coronavírus, por que não? Questão de princípios?
Os campeões de audiência
Os internautas do mundo inteiro, menos os do Brasil, estão hoje focados na pandemia. O tempo médio gasto por assunto cresceu 40% (notícias locais), governo e política (37%), tecnologia (40%), estilo de vida (44%), entretenimento (15%), jogos (18%), negócios (33%) – em tudo se envolve o coronavírus. No Brasil, política e governo (64%) foram os campeões no aumento de tempo consumido pelos internautas. Tecnologia bateu em 121%, negócios ficaram em 46%. Comida e bebida cresceram 54% – e o Brasil foi um dos poucos países que ampliaram o tempo gasto neste item. As notícias locais cresceram 63%. Pesquisa: Taboola, multinacional de comunicação de conteúdo, com acesso a nove bilhões de page views no mundo.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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