Novo coronavírus: número de mortes por mês bate recorde na Suécia, que terá de acertar contas com a história

 
Mais suecos morreram em abril passado do que em qualquer mês anterior desde dezembro de 1993, apontam dados do Escritório de Estatísticas do país revelados nesta segunda-feira (18), que deixam o claro os efeitos da pandemia do novo coronavírus entre os suecos.

A Suécia vem sendo apontada como um “modelo” a seguir por diversos governantes populistas ao redor do planeta que são contra a adoção de medidas mais severas para combater a pandemia, como o brasileiro Jair Bolsonaro e o americano Donald Trump. Ao contrário de seus vizinhos escandinavos, a Suécia evitou fechar o comércio e restaurantes e manteve abertas as escolas do ensino fundamental.

No entanto, o número de óbitos escancara os problemas do modelo adotado pelo governo local. A Suécia vem registrando proporcionalmente muito mais mortes que seus vizinhos escandinavos, que adotaram medidas mais rígidas para conter o avanço do vírus SARS-CoV-2. Desde o início da pandemia, 3.698 suecos morreram de covid-10 – 346,55 por 100 mil habitantes. Na vizinha Dinamarca, morreram 537 pessoas, ou 92,63 por 1 milhão de habitantes.

Em abril, 10.458 pessoas morreram de causas variadas na Suécia, entre elas covid-19. Só em dezembro de 1993 o país registrou mais mortes num mês: 11.057. Proporcionalmente, levando em conta toda a população sueca, o país também registrou um pico de óbitos em janeiro de 2000, quando morreram 110,8 pessoas por 100 mil habitantes.

 
Em abril de 2020, a proporção foi de 101,1. Em 2000, a população sueca tinha cerca de 1,5 milhão de habitantes a menos. Tanto em 1993 quanto 2000, as altas no número de mortes foram atribuídas a surtos sazonais de gripe.

Apesar de ter adotado um modelo mais flexível que seus vizinhos, nunca chegando a impor bloqueio total (“lockdown”) ou medidas mais severas de confinamento, a Suécia também está longe de permanecer no caminho da normalidade, como propagandeou Bolsonaro, tanto pelo alto número de mortes em comparação com vizinhos quanto pela falsa noção de que pouco mudou na economia por causa da pandemia.

A Suécia chegou a determinar o fechamento de instalações esportivas, baniu aglomerações com mais de 50 pessoas e visitas a casas de repouso e fechou colégios e universidades. Uma boa parte da população também passou a trabalhar em casa. O governo ainda incentiva medidas de distanciamento social e restaurantes que descumpriram regras de distanciamento entre os clientes chegaram a ser fechados.

Apesar de o comércio do país nórdico estar sujeito a menos restrições do que no restante da Europa, a previsão, segundo dados da União Europeia, é que a economia sueca encolha 6,1% neste ano. Em outras palavras, em algum momento a Suécia terá de acertar contas com a história, pois não se pode tratar a vida humana dessa maneira. (Com agências internacionais)