Estarrecido com o conteúdo do vídeo de reunião ministerial, Celso de Mello tende a levantar sigilo integral

 
Ruma na direção do fracasso os pedidos feitos pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), para que seja levantado o sigilo apenas da parte do vídeo da reunião ministerial que tem relação com o inquérito que investiga a tentativa de Jair Bolsonaro de interferir politicamente na PF. A Advocacia-Geral da União AGU), por sua vez, solicitou que sejam liberadas todas as falas de Bolsonaro durante a malfadada reunião.

Depois de assistir a íntegra do vídeo, o decano do STF mostrou-se incrédulo diante do que viu e ouviu por parte do presidente da República e de alguns ministros do governo, como informou o jornal “O Estado de S. Paulo”. A reunião, marcada por palavrões, ameaças e ofensas aos ministros do Supremo, possivelmente terá seu conteúdo liberado na íntegra, o que por certo provocará uma crise política maior do que já vem chacoalhando o País. Mesmo assim, a opinião pública tem o direito de saber o que acontece atrás das vidraças do Palácio do Planalto.

Nos bastidores fala-se oficiosamente que Celso de Mello tende a atender ao pedido formulado pela defesa do ex-ministro Sérgio Moro, o que, se confirmado, mostrará aos brasileiros de bem a forma como o País vem sendo governado. Em decisão publicada no início de maio, o ministro Celso de Mello destacou “não haver, nos modelos políticos que consagram a democracia, espaço possível reservado ao mistério”.

Magistrado cuja trajetória é emoldurada por decisões consistentes e elaboradas, sempre embasadas no texto constitucional e na jurisprudência da Corte, o ministro Celso de Mello, que tem sua origem laboral no Ministério Público do Estado de São Paulo, prometeu decidir sobre a questão até aproxima sexta-feira (22), mas a decisão pode ser antecipada por conta da estupefação do decano.

 
Em parecer encaminhado ao STF, o procurador-geral da República, Augusto Aras, ressalta que a divulgação da íntegra do material “o converteria em arsenal de uso político, pré-eleitoral, de instabilidade pública e de proliferação de querelas e de pretexto para investigações genéricas sobre pessoas, falas, opiniões e modos de expressão totalmente diversas do objeto das investigações”.

“O procurador-geral da República não compactua com a utilização de investigações para servir, de forma oportunista, como palanque eleitoral precoce das eleições de 2022”, completou Aras no parecer.

A alegação de Aras não encontra respaldo na verdade nem no bom-senso, pois a defesa que faz de Bolsonaro, a exemplo de tantas outras, é motivada por seu interesse de ser indicado ao Supremo, coincidentemente na vaga a ser deixada pelo ministro Celso de Mello, que em novembro próximo se aposentará compulsoriamente.

Se Sérgio Moro tenta usar o episódio como palanque de sua eventual candidatura à Presidência em 2022 – na opinião do UCHO.INFO essa tentativa é clara e inquestionável –, isso não surpreende, pois faz parte do jogo político. Até porque, Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República na esteira de algumas controversas decisões judiciais da Lava-Jato que alcançaram o PT, Lula e Dilma Rousseff. E não será o procurador-geral a evitar que Bolsonaro experimente ao menos uma dose do próprio veneno.