Sob pressão, Ministério da Saúde altera texto do protocolo sobre uso da cloroquina contra a Covid-19

 
Em que pese o ruído da fuzarca promovida pelos bolsonaristas a favor do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, o UCHO.INFO continua afirmando que configura irresponsabilidade ministrar aos pacientes um fármaco que não tem eficácia comprovada cientificamente para combater o novo coronavírus.

A divulgação do novo protocolo do medicamento pelo Ministério da Saúde, na quarta-feira (20), não passou de tentativa do presidente da República de criar um factoide mesclando saúde pública e ideologia. Tanto é assim, que o governo, diante da reação de vários setores da medicina, resolveu mudar o texto do protocolo e divulgar os signatários do documento, que na versão inicial eram desconhecidos.

Nesta quinta-feira (21), o Ministério da Saúde divulgou a nova versão do protocolo, em que recomenda o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em casos de Covid-19 considerados leves. O novo documento teve o título alterado de “tratamento medicamentoso precoce” para “manuseio medicamentoso precoce”. Essa mudança ocorreu depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) sinalizou, no dia anterior, que poderia barrar na íntegra ou parcialmente a medida provisória que isenta de punição agente público durante a pandemia do novo coronavírus.

Além da mencionada mudança, outra alteração chamou a atenção. Na versão inicial, o documento destacava que os estados já tinham protocolos próprios de “associação de fármacos”. Na nova versão, o documento é mais assertivo nesse quesito e afirma que estados, municípios e hospitais particulares “já estabeleceram protocolos próprios de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19”.

Em relação ao Conselho Federal de Medicina (CFM), o novo documento também traz alterações no texto. A versão anterior do documento ressaltava que o CFM autorizava o uso de cloroquina, ao passo que a edição desta quinta-feira faz ressalvas à recomendação do uso do medicamento. A primeira versão afirmava de maneira incisiva e direta que o CFM “autorizou a prescrição médica da cloroquina”.

 
Na versão revisada, o respectivo trecho foi reescrito e agora enfatiza que o CFM “propôs a consideração da prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina pelos médicos, em condições excepcionais, mediante o livre consentimento esclarecido do paciente”.

No tocante à dosagem do medicamento a ser usada no tratamento da Covid-19, a versão anterior recomendava o uso de 450 mg de cloroquina a cada 12 horas no primeiro dia e na sequência, a cada 24 horas e até o quinto dia, associada a azitromicina 500mg uma vez ao dia.

Na versão reescrita, o protocolo recomenda o uso de diosfato de cloroquina de 500mg, com 300 mg de cloroquina na base, sendo que a posologia segue a recomendação que consta no documento inicial. O novo protocolo, em sua parte final, traz nas notas recomendação técnica que limita a 25 mg de cloroquina por quilo.

Há também no novo documento uma ressalva da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que, como tem afirmado o UCHO.INFO, recomenda a realização de eletrocardiogramas nos primeiro, terceiro e quinto dias em todos os pacientes submetidos a tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina.

Todas essas alterações no protocolo evidenciam que o governo Bolsonaro continua tratando a pandemia do novo coronavírus com desdém e irresponsabilidade, não sem antes recorrer ao “achismo” para combater uma doença desconhecida e que oficialmente já causou mais de 20 mil mortes no País.

Considerando a escandalosa subnotificação da doença, fruto da baixa testagem, o número de pessoas que contraíram a Covid-19 é dez vezes maior, enquanto o de mortes é no mínimo o dobro.