Irresponsável e populista, Jair Bolsonaro conseguiu jogar a Polícia Federal na vala da desconfiança

 
O presidente Jair Bolsonaro parece acreditar que governar uma nação é algo similar a gerenciar o lupanar da esquina mais próxima. Talvez o mandatário nacional sequer tenha competência para comandar uma casa de alterne, tamanha é sua capacidade para criar conflitos e confusões. A mais recente obsessão do presidente da República jogou na vala da desconfiança a Polícia Federal, instituição que gozava com folga da confiança e do apreço da população.

Quando o UCHO.INFO afirma que Bolsonaro toma atitudes não republicanas, que afrontam a democracia e o Estado de Direito, é porque o presidente sequer tem capacidade para tomar conta da estrebaria do quartel. Os bolsonaristas por certo reagiram com a fúria de sempre, mas não há como fugir à realidade. Governar um país exige competência e estofo, predicados que Bolsonaro simplesmente desconhece.

Depois da insistência em substituir o diretor-geral da Polícia Federal e o superintendente do órgão no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro conseguiu colocar uma nuvem de suspeitas sobre a corporação por causa da Operação Placebo, que nesta terça-feira (26) cumpriu mandados de busca e apreensão nos endereços do governador fluminense, Wilson Witzel (PSC). Lembrando mais uma vez que não se trata de questionar a legitimidade da ação, mas de condenar o vazamento de informações de forma antecipada e para fermentar a politicagem que grassa no Palácio do Planalto.

Quando a PF age contra seus adversários políticos, Jair Bolsonaro gargalha e cumprimenta a corporação pelo feito, mas quando policiais federais investigam seus familiares e amigos a situação é diametralmente oposta. É preciso que o presidente decida qual PF estará a serviço da nação durante sua gestão, pois a legislação vigente determina que a corporação atue como polícia judiciária, ou seja, que acate as determinações da Justiça e do Ministério Público Federal.

Apoiadora de Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse na segunda-feira (25) que a PF deflagraria operações tendo como alvo governadores. Horas depois, a PF bateu à porta do Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governo do Rio de Janeiro. Essa conjugação de situações foi suficiente para colocar a PF sob suspeita. Não se trata de afirmar que Witzel é inocente ou culpado, mas o simples fato de a operação policial ter sido antecipada é motivo de desconfiança.

Como se não bastasse, o senador Flávio Bolsonaro, primogênito do presidente da República, disse nesta terça-feira, como forma de rebater as acusações de Witzel, que um tsunami de denúncias surgiria em breve contra o atual governador do Rio de Janeiro.

 
O senador afirmou que, além da Saúde, outras secretarias de Wilson Wiztel devem aparecer em investigações futuras. Flávio Bolsonaro alega não ter informações privilegiadas, mas que ouve tais denúncias “nas ruas” ou em “papos de botequim”.

“Você traiu todo mundo, Wilson. Agora você vai precisar de tempo para se defender, bicho. Mas isso não é nada perto do tsunami que está chegando perto de você”, disse Flávio Bolsonaro ao rebater a declaração do governo do Rio de Janeiro.

“No seu governo, os casos de corrupção já são assunto de mesa de bar. Não é informação privilegiada, é bastidor político, pessoas anônimas”, emendou o senador fluminense.

Quando um senador da República ousa fazer acusações desse naipe com base em conversas de botequim é porque a democracia foi pelo ralo e a população não faz ideia do que virá adiante.

Para piorar o que há muito é ruim, o também senador Major Olímpio (PSL-SP) chamou Flávio Bolsonaro de “bandido” e acusou o presidente da República de operar nos bastidores para proteger o filho.

Ultrapassa os limites do aceitável uma crise política que descamba para ameaças de milicianos. O Brasil só perde com esse cenário típico de organizações mafiosas, pois nenhum investidor minimamente responsável colocará recursos em um país movido pela conturbação política. Além disso, o destempero verborrágico do presidente é um convite à insegurança jurídica, algo que assusta qualquer investidor.