Como sempre afirma o UCHO.INFO, a estratégia do presidente Jair Bolsonaro para testar a capacidade de resistência dos outros Poderes constituídos oscila de acordo com o movimento da preocupação com o avanço das investigações sobre os filhos e os efeitos colaterais de sua conhecida verborreia. Tanto é assim, que, embalado pela torpeza da ideologia da direita radical, Bolsonaro lança constantemente “balões de ensaio” para saber até que ponto pode chegar nas investidas contra a democracia e o Estado de Direito.
O presidente vive um dilema que o coloca entre a insistência em continuar governando apenas para seus apoiadores, o que desagrada 70% da população brasileira, e a necessidade de ser reeleito para garantir não apenas um novo mandato, mas a possibilidade de prorrogar a blindagem aos filhos, algo que começa a apresentar as primeiras rachaduras.
Diante de um cenário que tem os filhos no centro de investigações que podem ter consequências devastadoras, Bolsonaro investe contra o Judiciário, na esperança de que os integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente, se intimidarão com suas ameaças e desistirão dos inquéritos em andamento.
Após perceber que o STF não arreda pé das investigações em curso, mesmo com a enxurrada de ataques e insinuações de golpe, Bolsonaro decidiu despachar o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, para uma conversa com o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que apura as notícias falsas e outros assuntos correlatos.
Em São Paulo, onde participou de compromisso das Forças Armadas, Azevedo e Silva agendou para a noite de segunda-feira (1) um encontro com Moraes, com o objetivo de aliviar a tensão entre o Executivo e o Judiciário.
O ministro do STF e o general têm relações próximas desde quando titular da Defesa estava no Comando Militar do Leste, no Rio de Janeiro, e foi responsável pela segurança dos Jogos Olímpicos. Além disso, Azevedo e Silva foi assessor especial do ministro Dias Toffoli na presidência do Supremo.
O encontro entre ambos foi cordial, até porque não poderia ser diferente, mas é cedo para afirmar se produziu os efeitos esperados pelo Palácio do Planalto. Essa dúvida se deve, primeiramente, ao fato de o ministro da Defesa ter endossado a nota divulgada pelo chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, Augusto Heleno, que em tom de ameaça criticou o ministro Celso de Mello no caso do pedido de apreensão do telefone celular do presidente da República.
Decano da Suprema Corte, Celso de Mello cumpriu o que manda a legislação ao enviar à Procuradoria-Geral da República (PGR) um pedido de apreensão dos celulares de Bolsonaro e de um dos seus filhos.
No último domingo (31), Azevedo e Silva sobrevoou a Praça dos Três Poderes ao lado de Bolsonaro, no exato momento em que ocorriam manifestações antidemocráticas que pediam o fechamento do STF e do Congresso Nacional. Foi o suficiente para o ministro da Defesa ser alvo de uma enxurrada de críticas.
Para justificar sua presença no helicóptero da Força Aérea Brasileira, ao lado do presidente, Azevedo e Silva alegou que sobrevoou a Praça dos Três Poderes para verificar a segurança local.
O ministro da Defesa pode, como cidadão, faltar com a verdade, mas não condição de ministro de Estado tem o dever de ser verdadeiro e transparente. Pelo que se sabe, não é da competência da pasta da Defesa cuidar da segurança do presidente da República, atribuição que cabe ao GSI, ou seja, a Augusto Heleno e seus subordinados.
Na verdade, Bolsonaro repetiu no último domingo o que vem fazendo com certa insistência: se apropriar da imagem das Forças Armadas para passar a falsa mensagem de que os militares estão ao seu lado e prontos para intervir a qualquer momento.
Azevedo e Silva, assim como a cúpula militar, tem repetido que as Forças Armadas são instituições de Estado, não de governo, e que não se cogita qualquer caminho fora do que determina a Constituição Federal. Se esse é de fato o pensamento do ministro da Defesa, que o general pense duas vezes antes de participar de episódios grotescos e antidemocráticos como o do último domingo, não sem antes lembrar a Bolsonaro que esticar a corda é um jogo arriscado.