Em nova e indireta provocação ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro afirmou no início da noite desta quarta-feira (17) que abusos têm sido cometidos no País e que sua reação será de emboscada.
Ao retornar ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro desceu do carro oficial e conversou com apoiadores, afirmando no escopo de decisões de decisões judiciais tentam acusá-lo das mais distintas maneiras, mas ressaltou ser necessário esperar “o cara se aproximar” para reagir.
“Têm abusos acontecendo e conseguem acusar a mim ainda. Mas importante que as mídias sociais hoje em dia mostram a verdade. E, brevemente, tudo estará resolvido. Pode ter certeza”, disse o presidente.
“É igual uma emboscada. Você tem de esperar o cara se aproximar. ‘Vem mais, vem jogando ovo e pedra’. Falei hoje de manhã: não quero medir força com ninguém. Continua vindo”, emendou.
Na parte da manhã, também à saída do Alvorada, Bolsonaro classificou como abuso a Operação Lume, da Polícia Federal, requerida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizada pelo STF contra aliados de seu governo. O chefe do Executivo ressaltou que “está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”.
As absurdas declarações de Bolsonaro contra a democracia e o Estado de Direito foram gravadas e publicadas nas redes sociais. O presidente da República é do tipo que fala demais, sem levar a cabo as ameaças que faz. Afinal, emboscada é um ataque surpresa ao inimigo, depois de um período de espera. Se o próprio Bolsonaro antecipa a emboscada, o suposto inimigo tomará a devida cautela.
Como já afirmou o UCHO.INFO, Jair Bolsonaro não aceita limites e sequer admite governar respeitando a Constituição Federal, lei máxima do País que estabelece como “tudo deve ser colocado no devido lugar”.
Considerando que Bolsonaro tenta colocar tudo fora do lugar, o papel do STF, que tem a incumbência de ser guardião da Carta Magna, é cumprir o que determina a legislação vigente e impedir abusos e devaneios de um governante que flerta diuturnamente com o autoritarismo.
Também nesta quarta-feira (17), o STF formou maioria a favor da legalidade do inquérito das fake news e pela manutenção do ainda ministro Abraham Weintraub como alvo da investigação que apura a disseminação de notícias falsas e ameaças a integrantes da Corte e seus familiares.
O fato de o referido inquérito ter se aproximado dos filhos do presidente – Carlos e Eduardo –, o Supremo passou a ser alvo constante dos rompantes totalitaristas de Bolsonaro que rejeita o contraditório e só consegue compreender a democracia sob a própria ótica, ou seja, desde que os outros Poderes constituídos se coloquem em posição genuflexa diante do Palácio do Planalto.
No diálogo com os apoiadores, por certo não têm o que fazer, Bolsonaro aproveitou para criticar mais uma vez o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que no momento julga processo que pode culminar com a cassação da chapa presidencial.
Na opinião do presidente da República, o mencionado processo já deveria estar arquivado. “É até vergonhoso dizer que um tribunal superior está julgando uma ação como essa. É até vergonhoso”, declarou Bolsonaro, que insiste em dizer que não aceitará “julgamento político”.
O processo que está em julgamento no TSE trata de ataque virtual durante a campanha presidencial de 2018 a um grupo de mulheres nas redes sociais. Não cabe a Bolsonaro determinar o que um tribunal deve analisar, pois à Justiça cabe o dever de julgar e eventualmente condenar os transgressores da lei, não importando a extensão ou o tipo da transgressão.
“Nós não queremos fazer nada de ilegal, ao arrepio da lei, mas também não admitiremos um julgamento político. Aí não. Isso é uma afronta? Não é afronta, é uma realidade. Ser acusado disso?”, afirmou aos apoiadores em tom de questionamento.
Se de fato Bolsonaro não deseja avançar sobre o terreno da ilegalidade, como declarou à porta da residência presidencial, que deixe a Justiça comprovar sua aludida inocência. Como essa inocência parece não existir, o presidente mergulhou no torvelinho do desespero, situação que o leva a disparar ameaças recorrentes na direção do Judiciário.