Ofuscada pela prisão de Fabrício Queiroz, demissão de Weintraub pode não funcionar como aceno ao STF

 
Abraham Weintraub não é mais ministro da Educação. No período em que permaneceu à frente da pasta, o agora ex-ministro dedicou-se apenas a criar polêmicas e confusões com viés ideológico, atuando como se fosse soldado do front bolsonarista.

A demissão de Abrahm Weintraub vinha sendo tratada por assessores palacianos como uma sinalização ao Judiciário, em especial ao Supremo Tribunal Federal (STF), de disposição do governo para um armistício com os outros Poderes constituídos, mas sua saída foi ofuscada pela prisão de Fabrício Queiroz, operador das “rachadinhas”.

Em vídeo publicado nas redes sociais, Weintraub anunciou, nesta quinta-feira (18), que estava de saída do governo e disse que não discutiria as razões que levaram à sua demissão. Salientou que a partir de agora ocupará uma diretoria no Banco Mundial, indicação do presidente da República, que nos últimos dias tratou a situação de Weintraub como problema.

 
Após ter chamado os ministros de STF de “vagabundos” e afirmar, durante reunião ministerial, que todos os magistrados da Corte deveriam estar presos, Weintraub passou a ser um enorme problema para o governo, que vem colecionando seguidas derrotas na Justiça. O ex-ministro participou no último final de semana, na Esplanada dos Ministérios, de ato a favor do governo, ocasião em que voltou a usar o termo “vagabundos” quando pressionado por apoiadores.

Alvo do inquérito das “fake news”, em tramitação no STF e que apura a disseminação de notícias falsas, ataques e a ameaças aos ministros e seus familiares, Weintraub tentou escapar da investigação por meio de habeas corpus impetrado pelo próprio governo, mas foi fragorosamente derrotado em julgamento virtual da Corte. Por 9 votos a 1, o STF decidiu mantê-lo no escopo do inquérito.

Não obstante o fato de que a demissão de Abraham Weintraub poderia ser um aceno pacificador do governo ao Supremo, Bolsonaro precisava tirar o colaborador de cena por causa da possibilidade de a Corte decretar sua prisão. A indicação de Weintraub para um cargo no Banco Mundial poderá dificultar um eventual pedido de prisão, mas não impedir uma determinação da Justiça, que no caso terá de recorrer a uma carta rogatória para que a ordem seja cumprida.

No vídeo em que anunciou sua demissão, Weintraub leu um texto preparado previamente e sem qualquer dose de convencimento, mas chamou a atenção a postura do presidente Jair Bolsonaro, que não se manifestou e exibiu certo desconforto com a situação. Ao final do vídeo, o ex-ministro pede um abraço ao presidente, que acontece emoldurado por certo constrangimento.