“Rolando Lero”: Guedes disse que a economia estava em “pleno voo”, mas pandemia mostrou o contrário

 
Em março passado, antes de a pandemia do novo coronavírus começar a mostrar suas garras em território brasileiro, o ministro Paulo Guedes ousou dizer que a economia brasileira estava em “pleno voo”, mas a crise de Covid-19 atrapalhou os planos do governo.

“Nós estávamos em pleno voo, começando a decolar, quando fomos atingidos por essa onda. Temos capacidade e velocidade de escape para mantermos nossa decolagem. Nós não estamos sincronizados com a economia mundial”, disse Guedes.

Sem até o momento ter mostrado a que veio, Guedes, que na campanha presidencial foi batizado por Bolsonaro como “Posto Ipiranga”, em alusão à campanha publicitária da rede de postos de combustíveis, é um falastrão que dorme no berço esplêndido da teoria econômica, sem jamais acordar para a realidade.

Quando a reforma da Previdência estava em discussão no Congresso Nacional, Guedes afirmou que com a aprovação da matéria – possível graças ao empenho dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado – a economia brasileira registraria crescimento de 2,4% em 2019. A profecia do ministro da Economia falhou e o PIB do ano passado fechou em mísero 1,1%.

Diante do fracasso da economia nacional em 2019, Paulo Guedes passou a buscar novas desculpas. E a bola da vez foi necessidade de se aprovar as reformas tributária e administrativa. A reforma tributária, agora extremamente necessária para impedir que a miséria se alastre ainda mais no País, ainda não tem data definida para entra na pauta de votações do Congresso Nacional. Mesmo assim, a reestruturação tributária no Brasil se faz urgente, pois, como sempre, que paga a maior carga de impostos termina no bolso do mais pobre.

No tocante à reforma administrativa, que em tese acabará com os privilégios condenados com o uso de palavrões e impropérios pelo ex-ministro Abraham Weintraub (Educação), ficará para depois, já que o governo de Jair Bolsonaro não tem coragem suficiente para enfrentar os protestos dos servidores federais. Isso posto, considerando que em 2021 faltará apenas um ano para a próxima disputa presidencial, a reforma administrativa corre o risco de ficar para as calendas.

Apesar de se autointitular um liberal, a visão míope de Paulo Gudes em relação à economia chega a assustar. Quando o governo aceitou a ideia de pagar o auxílio emergencial aos trabalhadores atingidos pela pandemia de Covid-19, Guedes sugeriu que o valor de cada uma das três parcelas fosse de R$ 200. Graças ao esforço dos parlamentares o valor foi majorado para R$ 600, mas o governo não teve competência para cumprir o calendário de pagamento inicialmente anunciado.

 
Em 29 de maio, Paulo Guedes não chegou a fazer um “mea culpa”, mas disse que analisaria o PIB do primeiro trimestre de 2020 para verificar se a economia estava “em pleno voo” antes da pandemia. O ministro reconheceu que o estado da atividade econômica nacional nos dois primeiros meses do ano fosse “meio anêmico”. Em outras palavras, o ministro usa metáforas pífias para justificar seu fracasso, sem admitir ser um fracassado.

O governo Bolsonaro anunciou linhas de crédito para empresas que começavam a enfrentar os efeitos colaterais da pandemia, mas apenas as grandes companhias conseguiram contratar empréstimos com a rubrica oficial. As pequenas e médias empresas, responsáveis por movimentar a economia do País, continuam a ver navios, enquanto a bancarrota não chega. Isso mostra que o liberalismo econômico defendido por Paulo Guedes serve para nada. Além disso, o fato de o ministro ter se graduado na Universidade de Chicago serviu para nada. Em suma, o governo atual só tem olhos para a minoria endinheirada.

Caso o governo fosse formado por notáveis, como prometeu o presidente da República, a economia verde-loura estaria em outro patamar antes da pandemia. O que não aconteceu. A realidade econômica no meio da crise da Covid-19, que serve de preâmbulo do que enfrentaremos mais adiante, é de penúria generalizada, uma vez que desse o início falta dinheiro na mão do brasileiro para garantir condições rasas de subsistência.

Paulo Guedes, como tem afirmado o UCHO.INFO desde a corrida presidencial, é um teórico de mão cheia que fracassa na hora da execução. Se um décimo do que Guedes vocifera Brasil afora fosse materializado, por certo não estaríamos vivendo a tragédia econômica que avança por todos os rincões da outrora terra de Vera Cruz.

Para que o leitor tenha ideia do fiasco em que se transformou o governo de Jair Bolsonaro na área econômica, o presidente disse ser impossível pagar mais duas parcelas do auxílio emergencial. No contraponto, parlamentares defendem a ampliação do pagamento do auxílio emergencial até o final deste ano, o que significa pagar mais cinco parcelas, sem contar a terceira que só foi paga, de forma inconclusa, aos inscritos no programa Bolsa Família. Os outros inscritos no auxílio que morram de fome.

Outro sinal do fracasso da política econômica do governo advém do setor de bares e restaurantes. Pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), cujos dados foram divulgados na última sexta-feira (19), aponta que 40% dos bares e restaurantes da cidade de São Paulo devem fechar as portas definitivamente devido à crise decorrente da pandemia de Covid-19. Apenas 11,9% dos empresários do setor disseram ter conseguido algum dos financiamentos anunciados pelo governo, enquanto 45,2% defendem financiamentos a taxas de juro reduzidas.

O cenário torna-se mais amedrontador quando descobre-se que 57,1% dos bares e restaurantes paulistanos demitiram funcionários e 83,3% recorreram à suspensão do contrato de trabalho durante a pandemia para manter os funcionários ou minimizar as demissões. Outra saída foi a redução de jornada e salário, adotada por 45,2% dos entrevistados, e férias coletivas, por 33,3%.

Pois bem, se, de acordo com a falsa profecia do ministro Paulo Guedes, a economia brasileira estava em “pleno voo” antes da pandemia, como empresários não conseguem atravessar sem intercorrências a crise provocada pela Covid-19? A resposta é simples e direta: Guedes é péssimo em fórmulas econômicas, mas tem se mostrado um destacado calouro na política, pois afinal aprendeu com impressionante rapidez a distorcer a verdade. Traduzindo, a alcunha que mais combina com o ministro é “Rolando Lero”.