A hora da vacina

(*) Carlos Brickmann

Ainda há tempo para 2020 terminar bem: a vacina inglesa desenvolvida pelo Imperial College de Oxford e os laboratórios Astra-Zeneca vai bem nos testes e está quase no ponto de ser produzida em todo o mundo, incluindo o Brasil. Nesta semana, disse o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, pode ser assinado o acordo do Laboratório de Manguinhos e da Fundação Oswaldo Cruz com os ingleses. A Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, e a Fundação Jorge Paulo Lehman podem aplicar vacinas em voluntários. É a última etapa antes da produção em massa.

Simultaneamente, o Instituto Butantan, da Universidade de São Paulo, se apronta para produzir a vacina chinesa da Sinovac. Pelo menos mais duas vacinas estão no forno, criadas pelas americanas Gilead e Moderna. A OMS ainda estudará a taxa de imunização de cada vacina, para estabelecer os seus protocolos. Mas, enquanto os estudos tentam apontar a mais adequada, todas estarão à disposição para prevenir a doença. Nada impede que todas acabem sendo indicadas: no caso da paralisia infantil, a vacina mais usada no mundo é a Sabin (a da gotinha), mas a Suécia faz a vacinação com a pioneira Salk.

Quando começa a vacinação em massa, como será distribuída a produção mundial de vacinas? Não há resposta exata, ainda, mas a vacinação em massa está perto de começar. Espera-se ainda a aprovação de remédios para quem já pegou a doença. Enfim, o Covid poderá ser comparado a uma gripezinha.

Brasil prioritário

Reafirmando: ao se envolver diretamente nos testes com duas das vacinas, o Brasil estará na lista prioritária para importá-las e produzi-las. A prioridade é essencial: imaginemos que 25% da população mundial tenham de ser vacinados. Serão dois bilhões de doses, se a imunização pedir uma só dose. Produzir dois bilhões de vacinas leva tempo e muitos países ficarão para trás.

O custo da vida

Comenta-se, sem maiores detalhes, que a vacina não deve ser cara e que, produzida em bilhões de doses, o custo tende a se reduzir. Mas chegar a ela custou caro: entraram no jogo fundações como a de Jorge Paulo Lehman (um dos maiores acionistas da AB-Inbev, da Heinz, da Burger King) e a de Bill Gates, da Microsoft, além dos gigantes farmacêuticos mundiais. Trump pôs em dúvida, antes, a gravidade do Covid, e virou cloroquineiro – igualzinho, igualzinho. Mas mostrou que era diferente ao perceber a gravidade do Covid, e o Governo americano colocou algo como US$ 1 bilhão na Moderna, na busca da solução.

Este colunista não se surpreenderá se for informado de que as despesas na busca da vacina e do remédio alcançaram uns US$ 10 bilhões.

Dúvida

O escritor Olavo de Carvalho gravou vídeo em que se queixa de não ter tido qualquer auxílio do Governo e ameaça derrubar Bolsonaro se não o receber. Quantificando, são R$ 2,8 milhões de multas à Justiça, mais recursos para que continue vivendo nos EUA. Disse que condecoraçõezinhas não quer e sugeriu que Bolsonaro as coloque num local que vive citando, até em reuniões ministeriais.

A dúvida: já deram ajuda a Olavo de Carvalho? E, como não recebeu nenhuma condecoração, sua sugestão terá sido seguida?

Dia bom

O Senado deve votar hoje o Marco do Saneamento Básico, pelo qual a iniciativa privada terá papel preponderante em levar a toda a população do país os esgotos e a água potável até 2033. Hoje, mesmo cidades como o Rio e São Paulo dispõem de saneamento básico insuficiente – e o presidente até já apresentou isso como uma virtude, o brasileiro precisa ser estudado, pula no esgoto e não acontece nada. Saneamento básico para todos representará forte queda na mortalidade infantil, redução dos custos do SUS, facilidade para o combate a doenças transmitidas por insetos e por roedores. Mais: são obras razoavelmente simples, que empregam muita gente e que podem atrair investimentos calculados em R$ 700 bilhões.

Aprovado (e implantado) este Marco do Saneamento Básico, a história do Brasil se dividirá em duas partes.

Números

Hoje, metade da população não tem água tratada. E 1/7 não têm esgotos.

Os extremos se tocam

A casa em Atibaia (que não é nem de Lula nem de Queiroz, mas de amigos deles) não é a única coisa comum a ambos os casos. As explicações são sempre curiosas: nas duas casas o dono não aparece, uma tem placa de escritório de advocacia, e um cavalheiro fica um ano morando lá sem que o dono saiba (isso na primeira versão: na segunda o dono sabe, mas prefere nada comentar para que outro de seus clientes, embora amigo do cavalheiro escondido, não se preocupe). E neste ano jamais conversaram. Normal, né?

Quem defende

Wasseff tinha procuração de Bolsonaro. Karina Kuffa disse que o cliente era dela. Ele então desistiu de defender Flávio. Mas a briga era pelo outro!

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

As informações e opiniões contidas no texto são de responsabilidade exclusiva do autor, não representando obrigatoriamente o pensamento e a linha editorial deste site de notícias.