Declaração de Heleno e mensagens trocadas entre militares e Moro deixam Bolsonaro em situação difícil

 
O desdobramento do escândalo das malfadadas “rachadinhas” piorou sobremaneira com a prisão de Fabrício Queiroz, acusado de ser o operador do esquema criminoso, deixando o presidente da República em situação de extrema dificuldade.

O fato de a prisão de Queiroz ter ocorrido em imóvel do advogado Frederick Wassef, em Atibaia, levou os generais palacianos a um processo de distanciamento do presidente da República. Esse movimento de precaução é resultado do perigo que representa continuar apoiando incondicionalmente Jair Bolsonaro, quando no contraponto a gravidade do caso exige atenção.

Desde o fim da ditadura, os militares têm tentado se livrar da mácula deixada pelo período mais obscuro da história nacional, que contou com prisões ilegais de adversários ideológicos, mortes e desaparecimentos.

Pouco mais de 35 anos após o fim da era plúmbea, os militares não cogitam enfrentar os efeitos colaterais dos escândalos protagonizados pelos filhos de Bolsonaro, que de certa forma atingem o governo e o próprio presidente. Esse cenário obrigou o governo a se aliar ao Centrão, núcleo político de atuação no Congresso Nacional que já mereceu duras críticas do generalato palaciano.

A primeira demonstração de distanciamento dos militares em relação a Bolsonaro partiu do chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), Augusto Heleno, que afirmou não ter existido qualquer dificuldade para o presidente promover mudanças em sua segurança no Rio de Janeiro.

 
Essa declaração manda pelos ares explicação de Bolsonaro sobre a declaração dada na reunião ministerial de 22 de abril, quando disse que não esperaria “foder minha família, com sacanagens” para mudar a segurança no Rio de Janeiro.

Na verdade, o presidente fez referência ao seu desejo de interferir politicamente na Polícia Federal, como forma de conseguir informações sobre inquéritos que têm seus filhos na mira, mas a explicação dada em seguida não convenceu.

Agora, com a afirmação de Augusto Heleno o presidente começa a perceber que o apoio dos generais e outros oficiais militares não é incondicional e tem limites, pois a imagem das Forças Armadas precisa ser preservada.

Nas vezes em que participou de atos antidemocráticos, em Brasília, Bolsonaro sempre fez questão de associar a imagem das Forças Armadas ao movimento inconstitucional, como se existisse a possibilidade de um golpe, sendo que em algumas ocasiões contou com a participação de alguns integrantes da ala militar do Palácio do Planalto em suas irresponsáveis incursões contra os outros Poderes constituídos (Judiciário e Legislativo).

Para piorar a situação, vazou a informação de que existem mensagens entre os militares palacianos, como Augusto Heleno, por exemplo, e o ex-ministro Sérgio Moro (Justiça) sobre a insistência de Bolsonaro em interferir na PF. Moro pediu demissão do cargo após a exoneração do delgado federal Maurício Valeixo, então diretor-geral da PF.

As referidas mensagens não foram incorporadas ao inquérito que apura a suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, já que Moro e os integrantes da ala militar do governo preferiram não impulsionar a crise institucional que chacoalha o País.