Quando foi anunciado pelo então candidato Jair Bolsonaro como eventual ministro da Economia, ainda na corrida presidencial de 2018, Paulo Guedes ganhou o apelido de “Posto Ipiranga”, como se, a exemplo do que sugere a campanha publicitária da rede de postos de combustíveis, tivesse soluções para todos os problemas nacionais.
Consumada a vitória de Bolsonaro nas urnas e sua posse na Presidência da República, Guedes passou a disparar críticas aos antecessores, dando a entender que tudo o que fora feito até então era um tremendo equívoco. Postura idêntica adotou Lula tão logo assumiu o primeiro mandato presidencial, ocasião em que adotou o bordão “herança maldita”.
Quem conhece a política nacional em seus meandros sabe que essa tática é tão antiga quanto embusteira. Isso posto, é importante que Paulo Guedes não fugiu ao script e depois de dezoito meses no comando da economia verde-loura, o País está à deriva, como vem alertando o UCHO.INFO nos últimos tempos.
A mais nova desculpa de Guedes para justificar seu insucesso como ministro é a pandemia de Covid-19, que arruinou economias mundo afora, mas é importante destacar que o titular da Economia disse, há meses, que o Brasil estava em pleno voo em termos econômicos.
Não pode estar em pleno voo uma economia cuja nação tem mais de 13 milhões de desempregados, 38 milhões de trabalhadores na informalidade, 14 milhões de famílias (42 milhões de pessoas) inscritas no programa “Bolsa Família” e dois terços da população recebendo mensalmente menos de dois salários mínimos. Além disso, o Brasil viu perto de 100 milhões de cidadãos se inscrevendo para receber o “auxílio emergencial”. Ou seja, o cenário catastrófico vem de longe e o governo atual nada fez para mudar a dura realidade enfrentada pela população.
Para piorar um cenário que era conhecidamente ruim, Paulo Guedes afirmou que a economia do País surpreenderia o planeta ao final da pandemia da Covid-19 com uma recuperação estrondosa, em movimento que os economistas costumam chamar de “V”, queda e subida abruptas. Depois de uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 6,5% – é a previsão para o Brasil em 2020 – qualquer país é capaz de retomar a economia com alguma dose de fôlego.
As profecias de Guedes foram pelos ares, pois no primeiro trimestre do corrente ano a economia nacional entrou em recessão, como informou o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Sob os primeiros efeitos da pandemia do novo coronavírus, no primeiro trimestre o PIB brasileiro registrou recuo de 1,5%, na comparação com os quatro últimos meses de 2019, conforme dados das Contas Nacionais Trimestrais, divulgados há um mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Reunidos na última sexta-feira (26), os economistas que integram o Codace concluíram que o ciclo de negócios brasileiro atingiu o ápice de expansão no quarto trimestre de 2019, o que “sinaliza a entrada do país em uma recessão a partir do primeiro trimestre de 2020”.
Criado em 2004, o Codace tem “a finalidade de determinar uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiros”. Apesar de ter sido criado pela FGV e receber apoio operacional do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), as decisões do Comitê são independentes.
Compõem o Codace Affonso Celso Pastore, coordenador do comitê, diretor da AC Pastore & Associados e ex-presidente do Banco Central (BC); Edmar Bacha, diretor da Casa das Garças e integrante da equipe que criou o Plano Real; João Victor Issler, professor da FGV; Marcelle Chauvet, professora da Universidade da Califórnia; Marco Bonomo, professor do Insper; e Paulo Picchetti, professor da FGV; Fernando Veloso, professor da FGV, em substituição ao professor Regis Bonelli (falecido em 2017); e o professor Vagner Ardeo, vice-presidente do Ibre/FGV.