Mourão fala em “grandeza moral” ao referir-se a Gilmar, mas deveria pedir ao Exército para deixar o governo

 
Como sempre afirma o UCHO.INFO, na política inexiste espaço para coincidências e os fatos estão longe de ser obra do acaso. Em outras palavras, qualquer ação é prévia e estrategicamente planejada para, quando colocada em marcha, alcance os objetivos esperados.

Assim aconteceu com a fala do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, ao rebater declaração do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que vinculou o Exército ao genocídio em que se transformou a crise do novo coronavírus no País. Além disso, Mourão, que de forma simultânea defende a caserna e o governo Bolsonaro, cobrou do magistrado uma retratação.

O vice-presidente disse que se Gilmar Mendes tiver “grandeza moral” precisa se desculpar e se retratar perante o Exército. Em entrevista à CNN Brasil, nesta terça-feira (14), Mourão afirmou que a troca de comando no Ministério da Saúde, alvo das críticas de Gilmar, só acontecerá com a redução da pandemia de Covid-19 no Brasil. “Espera a pandemia arrefecer, aí troca”, disse o vice-presidente.

A declaração de Hamilton Mourão é dissonante em relação ao comportamento do presidente da República, que a reboque do negacionismo minimiza insistentemente o efeito devastador da pandemia, não usa máscara de proteção e promove aglomerações, atitudes que passam à opinião pública a falsa ideia de que a Covid-19 é uma “gripezinha” ou um “resfriadinho”.

Além disso, na opinião do vice-presidente a Covid-19 tem apresentado “menores graus de letalidade em locais onde houve avanço muito rápido”, como em São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Belém. “Deixa que se tenha noção de que atingimos um ponto de controle para aí trocar ministro”, declarou.

Aos militares da ativa não cabe fazer política nem participar de embates ideológicos, especialmente quando o palco dessa peleja é um governo pífio e desqualificado que acena ao retrocesso e aposta todas as fichas na ruptura democrática como garantia de continuidade. É importante ressaltar que o silêncio obsequioso de Bolsonaro não representa mudança de comportamento ou de pensamento, mas a postura covarde de quem se viu cercado por escândalos e investigações em curso, algumas envolvendo os próprios filhos.

 
Aproveitando o discurso de Hamilton Mourão, “grandeza moral” deveria ter o Exército e pedir desculpas à nação por integrar um governo inoperante e recheado de néscios e aproveitadores. De igual modo, “grandeza moral” deveria ter o governo e desculpar-se perante a população pela inoperância da máquina estatal diante do avanço da pandemia do novo coronavírus no Brasil, onde há 1,9 milhão de casos confirmados de Covid-19 e quase 73 mil mortes pela doença.

Mourão deveria ler a Constituição Federal com esmero, dando atenção aos artigos 6 e 196, que tratam dos direitos do cidadão aos serviços de saúde e as obrigações do Estado nessa seara.

Art. 6 – São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Art. 196 – A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

É extremamente fácil aos integrantes da cúpula do governo Bolsonaro regurgitar sandices moralistas tendo à disposição o que há de melhor em termos de medicina e saúde, tudo custeado com o suado dinheiro do contribuinte. Enquanto o governo Jair Bolsonaro se omitir no tocante ao combate da pandemia do novo coronavírus, não há como deixar de falar em genocídio, em que pese o bamboleio interpretativo de alguns sabujos profissionais da imprensa.

O vice-presidente cobra retratação por parte do ministro Gilmar Mendes porque sabe que a declaração sobre genocídio piora sobremaneira a situação do presidente da República no Tribunal Penal Internacional, em Haia (Holanda), que tem na escrivaninha representação contra Bolsonaro por crime contra a humanidade.

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