Racistas dão prazo de 48 horas para que deputadas negras e defensores de imigrantes deixem Portugal

 
Um dos destinos mais procurados por pessoas que desejam um local tranquilo para viver, Portugal agora é alvo de uma onda de racismo que preocupa. Isso acontece semanas após a intolerância ter ocupado o noticiário internacional na esteira do assassinato do norte-americano George Floyd, morto por sufocamento por um policial de Minneapolis.

Lideranças que combatem o racismo e defendem os direitos dos imigrantes em Portugal passaram a ser vítimas de uma onda de assédio patrocinada por integrantes da extrema direita do país europeu.

Em um cenário marcado por ameaças de morte, dirigentes de ONGs e três deputadas de partidos de esquerda receberam, na última quarta-feira (12), um ultimato para que abandonassem Portugal em no máximo 48 horas, como se isso fosse possível em um regime democrático.

As ameaças se deram por e-mail, inclusive aos familiares dos alvos, e partiu Resistência Nacional, organização de extrema direita nacionalista. No último sábado (8), o grupo promoveu um protesto com referências ao movimento racista Ku Klux Klan, com máscara e tochas, em frente à sede da ONG SOS Racismo, em Lisboa.

Mamadou Ba, um dos principais porta-vozes das questões raciais em Portugal, foi um dos que receberam o email com o ultimato para deixar o país. Ao todo, dez pessoas foram ameaçadas, incluindo duas deputadas negras nascidas no exterior: Joacine Katar Moreira (sem partido) e Beatriz Gomes Dias, filiada ao Bloco de Esquerda. Do mesmo partido, a parlamentar Mariana Mortágua também foi alvo da intimidação.

Criminosa, a mensagem ressalta que caso as vítimas de intolerância não saiam de Portugal no prazo estipulado, “medidas serão tomadas (…) de forma a garantir a segurança do povo português”.

 
“O mês de agosto será mês da luta contra os traidores da nação e seus apoiantes. O mês de agosto será o mês do reerguer nacionalista”, afirmam os extremistas, que em país minimamente responsável já estariam atrás das grades.

Nas últimas duas semanas, o grupo ultradireitista enviou pelo menos três mensagens contendo ameaças. Com referências a um suposto marxismo cultural, doutrinação comunista e hordas de imigrantes, os extremistas afirmam querer que “Portugal volte a pertencer aos portugueses”.

“A partir de hoje, o medo irá mudar de lado. Para cada nacionalista preso, um antifa [antifascista] será enterrado. Para cada cidadão morto, dez estrangeiros serão eliminados”, completam.

A temporada de verão era considerada uma oportunidade para o esvaziamento do movimento extremista, mas uma guinada no cenário ocorreu em 25 de julho, quando o ator negro Bruno Candé, de 39 anos, foi assassinado com quatros tiros por questões raciais. O assassino era vizinho do ator e teria disparado ofensas racistas. De acordo com testemunhas, o assassino disse, antes de disparar, “preto, vai para a tua terra”.

Causa espécie a reivindicação dos ultradireitistas portugueses não apenas pelo comportamento racista, mas principalmente pela defesa de que o país volte a pertencer a seus cidadãos. Para um povo que historicamente singrou os mares nos ventos do expansionismo colonialista, ficando suas bandeiras em diversas partes do planeta e lucrando fortunas com o tráfico de escravos, essa reivindicação é, além criminosa, descabida e xenófoba.

É importante ressaltar que o povo português, em sua extensa maioria, continua acolhedor e cortês, sendo que essa casta que age nas franjas fascistas do racismo e da intolerância não representa uma nação.

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