Membro do Hezbollah é condenado pela morte de Rafik Hariri, ex-premiê do Líbano, em 2005

 
Um tribunal apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) condenou nesta terça-feira (18) um membro do grupo xiita Hezbollah pelo assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, morto em um atentado em 2005 que preparou o terreno para anos de confronto entre as forças políticas do Líbano.

Os juízes do Tribunal Especial para o Líbano concluíram que as provas encontradas pela investigação eram suficientemente fortes apenas para incriminar um dos quatro réus, Salim Jamil Ayyash, enquanto os outros três foram absolvidos.

Embora a Corte também não tenha encontrado evidências do envolvimento direto das lideranças do Hezbollah, apoiado pelo Irã, ou do governo da Síria no crime, os juízes consideraram que o assassinato foi claramente um ato de terrorismo com motivação política.

Hariri, um bilionário muçulmano sunita que tinha estreitas relações com os Estados Unidos e países sunitas do Golfo, era visto como uma ameaça para a influência iraniana e síria no Líbano, tendo liderado os esforços para reconstruir Beirute após a guerra civil de 1975-1990.

Sua morte, em 14 de fevereiro de 2005, levou a uma série de protestos pelo país, que acabaram forçando a retirada das tropas sírias do Líbano após três décadas.

No veredito proferido ao longo de várias horas nesta terça-feira, o tribunal declarou o réu Salim Jamil Ayyash culpado de todas as cinco acusações e afirmou que sua afiliação ao Hezbollah foi comprovada pelos promotores.

“A sala da primeira instância declara Ayyash culpado, sem nenhuma dúvida razoável, de ser coautor do homicídio intencional de Rafik Hariri”, leu o presidente da Corte, David Re, sobre o acusado, considerado líder da célula que realizou o atentado em Beirute há 15 anos.

O ataque foi perpetrado por um homem-bomba dirigindo um veículo carregado com toneladas de material altamente explosivo, que foi detonado quando a comitiva de Hariri passava em frente a um hotel à beira-mar na capital libanesa. Além do ex-premiê, outras 21 pessoas morreram e 226 ficaram feridas. A explosão pôde ser ouvida em quase toda a cidade.

Embora reconheça que Ayyash “não agiu sozinho”, o tribunal considera que ele “desempenhou um papel importante na preparação do ataque”, motivo pelo qual é culpado de todas as acusações, entre elas a “comissão de um ataque terrorista com material explosivo”, o “homicídio intencional” dos 22 mortos, além da “tentativa de homicídio intencional” contra os feridos.

Os outros três acusados – Hussein Hassan Oneissi, Assad Hassan Sabra e Hassan Habib Merhi – foram absolvidos da responsabilidade na “conspiração” do ataque porque não foi provado que eles sabiam que a intenção do atentado era matar Hariri.

 
Beirute recebe veredito com decepção

“Estou com muita raiva”, disse Sami Kara, apoiador de Hariri. Após 15 anos e “centenas de milhões de dólares gastos no tribunal”, descobriu-se que apenas “uma pessoa cometeu um crime tão grande”, afirmou. Segundo ele, esse dinheiro deveria ter sido gasto na construção de usinas de energia no Líbano, onde os moradores vivem com cortes regulares de eletricidade.

Quando foi composto na sequência do ataque, o tribunal especial aumentou as esperanças de que, pela primeira vez em múltiplas instâncias de violência política no Líbano, a verdade viria à tona e os perpetradores seriam responsabilizados. Mas, para muitos no país, a corte apoiada pela ONU falhou em ambos os pontos.

Os quatro suspeitos foram julgados à revelia, pois desde que as acusações foram divulgadas, em 2011, nenhum deles deu sinais de vida nem entrou em contato com o tribunal, localizado na cidade de Leidschendam, na Holanda. Além disso, a investigação não foi capaz de apresentar uma ideia coesa do plano do atentado, seus pormenores ou quem o orquestrou.

Assim, duvidava-se que o veredito, proferido 15 anos após o assassinato e sem réus presentes no tribunal, trouxesse um desfecho para aqueles que esperavam justiça.

O ex-premiê libanês Saad Hariri, filho do ex-primeiro-ministro assassinado, afirmou a jornalistas ao deixar o prédio do tribunal que a família aceita o veredito, embora tenha reconhecido que a “expectativa de todos era muito maior do que o que surgiu”.

Ele ainda prometeu “não descansar até que seja cumprida a pena” ditada pelo atentado contra o pai. “Foi provado que os membros da célula que realizou o ataque procediam do Hezbollah. Agora, é o Hezbollah que terá de fazer sacrifícios”, ponderou.

O Hezbollah sempre negou qualquer envolvimento na morte de Rafik Hariri. O líder xiita, Sayyed Hassan Nasrallah, disse na última sexta-feira (14) que não estava preocupado com o julgamento e que, se algum membro do movimento fosse condenado, o grupo continuaria defendendo sua inocência.

Uma nova audiência será realizada pelo tribunal para definir a sentença a ser imposta a Salim Jamil Ayyash, que pode ser de prisão perpétua.

O fim do julgamento ocorre em momento particularmente delicado para o Líbano, cenário de uma explosão que há duas semanas devastou grande parte de Beirute, em especial a zona portuária.

Em 4 de agosto, 2.750 toneladas de nitrato de amônio que estavam estocadas irregularmente há seis anos em um armazém no porto provocaram uma megaexplosão, destruindo bairros inteiros da capital libanesa e deixando 300 mil pessoas desabrigadas, 178 mortos, 6 mil feridos e ao menos 30 desaparecidos. (Com agências internacionais)

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