Bolsonaro quer distância do senador do “dinheiro na cueca”, mas protege o filho no caso das “rachadinhas”

 
Jair Bolsonaro foi eleito na esteira da falsa promessa de restabelecer a ordem, algo que defende com o uso da violência e o desrespeito à democracia, e o resgate da ética na política, promessa que continua em cima do palanque, pois o presidente da República é, como sempre afirmamos, o que se conhece como “mais do mesmo”. Traduzindo para o bom vernáculo, é um farsante adepto do populismo barato e da fanfarronice institucional.

O escândalo envolvendo o agora ex-vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado pela Polícia Federal com R$ 100 mil, em espécie, guardados em casa, sendo R$ 30 mil escondido na cueca, levou Bolsonaro a deflagrar um movimento covarde cujo objetivo é se desvencilhar do imbróglio.

Quem acompanha a política nacional, em Brasília, com proximidade sabe que Chico Rodrigues sempre foi afeito a escândalos. O mais conhecido é o das fraudulentas notas fiscais de combustível, que permitiu ao parlamentar roraimense, à época deputado federal, embolsar aproximadamente R$ 30 mil mensais, em 2006, a partir do ressarcimento dos valores supostamente gastos. Na ocasião, o escândalo provocou um prejuízo de R$ 41 milhões aos cofres públicos.

Chico Rodrigues admitiu o uso de notas fiscais frias, emitidas por postos de combustíveis, mas alegou que recorreu à prática criminoso para custear despesas desprovidas de recibos. Em março de 2019, o senador do Democratas recebeu, de acordo com o Portal de Transparência do Senado, quase R$ 20 mil em diárias para cobrir despesas de viagem ao Canadá e a Israel, onde cumpriu agenda oficial.

Durante seis dias, Chico Rodrigues ficou na cidade canadense de Toronto, onde participou da convenção anual da “Prospectors and Developers Association of Canada” (PDAC), encontro cuja pauta era a exploração mineral. O senador deparou-se com diversos movimentos que atentam contra a mineração brasileira, mas sequer reagiu em defesa do País.

A destituição de Chico Rodrigues do cargo de vice-líder do governo no Senado foi publicada na edição desta quinta-feira (15) do Diário Oficial da União (DOU), um dia após a PF deflagrar operação em Roraima para apurar o desvio de R$ 20 milhões de recursos destinados ao combate à pandemia do novo coronavírus.

 
“Nos termos do art. 66-A do Regimento Interno dessa Casa do Congresso Nacional, em atenção ao pedido do Senhor Senador Francisco de Assis Rodrigues, solicito providências para a sua dispensa da função de Vice-Líder do Governo no Senado Federal”, ressalta a publicação no DOU.

“Alguns acham que toda corrupção tem a ver com o governo. Não. Nós destinamos aí dezenas de bilhões para Estados e municípios, têm as emendas parlamentares também e, de vez em quando, não é muito raro, a pessoa faz uma malversação desse recurso. Agora, a CGU (Controladoria-Geral da União) está de olho, a nossa Polícia Federal está de olho e tomamos decisões”, disse Bolsonaro.

O presidente da República sempre soube do polemico currículo de Rodrigues, mas decidiu alça-lo ao posto de vice-líder do governo. Como na política brasileira inexistem coincidências, o senador emprega em seu gabinete no Senado o assessor parlamentar Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como “Leo Índio”, primo dos filhos de Bolsonaro.

Lotado no gabinete de Chico Rodrigues desde abril de 2019, “Leo Índio”, que embolsa mensalmente R$ 14.802,41 (sem contar os penduricalhos), é filho de Rosemeire Nantes Braga Rodrigues, irmã de Rogéria Nantes, mãe dos três filhos políticos do presidente. Ele foi assessor de Flávio Bolsonaro e é muito próximo do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).

Por ocasião da sua nomeação, “Leo Índio” declarou: “Há algumas semanas recebi o convite do senador Chico Rodrigues, a quem admiro há bastante tempo, para compor sua equipe de trabalho. Nossa convivência foi estreitada desde os primórdios da campanha de Jair Bolsonaro à Presidência, quando o senador pôde constatar algumas das minhas características e a convergência de nossas ideias. Sempre acreditei na meritocracia e no valor do trabalho, verdadeiro fiador das liberdades individuais. A boa política, entretanto, é indissociável de mim desde a infância”.

Bolsonaro tem o direito de tentar escapar dos efeitos colaterais do escândalo, mas não pode passar à opinião pública a falsa ideia de que seu governo é uma ode à moralidade pública. Aliás, o presidente não tem moral para falar em combate à corrupção, pois até o momento não explicou a origem dos R$ 40 mil supostamente emprestados a Fabrício Queiroz, assim como não apresentou justificativa para os R$ 89 mil depositados pelo operador das malfadadas “rachadinhas” na conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Para finalizar, Bolsonaro despejou Chico Rodrigues da vice-liderança do governo no Senado, porque tenta sugerir que não compactua com desmandos, mas continua protegendo o filho Flávio no caso das “rachadinhas”. Como diz a sabedoria popular, dois pesos e duas medidas.

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