A troca triunfal das moscas

(*) Carlos Brickmann

Bolsonaro está quase completando dois anos de mandato. Prometeu varrer a corrupção, afastar do Governo a velha política, acabar com a busca de apoio em troca de cargos. Teve seus tropeços: as acusações contra seu filho mais velho, o senador Flávio, a delirante ideia de nomear Eduardo, seu filho mais novo, para a Embaixada em Washington, a proximidade do filho do meio, Carluxo, com o Gabinete do Ódio. A pergunta que vem sendo feita há dois meses, por que Queiroz e esposa depositaram R$ 89 mil na conta de Michele Bolsonaro, não foi respondida; formalizou-se a aliança com o Centrão, a base da Velha Política. Diante disso, qual a opinião do eleitor sobre o Governo?

A revista Exame contratou o Instituto Ideia para pesquisar o tema.

Corrupção: para 37%, a corrupção no atual Governo não aumentou nem diminuiu. Para 34%, a corrupção aumentou. Para 25%, diminuiu.

Tendência da corrupção, diante das providências do Governo: para 29%, vai aumentar. Para 35%, continuará igual. Para 27%, deve diminuir.

Popularidade: a avaliação do presidente Bolsonaro é positiva para 37%, que o consideram “ótimo” e “bom”.

Influência nas eleições: até agora, nada sensível. Bolsonaro apoia com firmeza Celso Russomano, em São Paulo, e Marcelo Crivella, no Rio. Mas muita gente, 21%, tende a não comparecer à votação, por causa da pandemia. E metade dos entrevistados ainda não escolheu candidato à Prefeitura, nem tem posição pró ou contra o candidato do presidente. Pode haver surpresas.

Sem fantasia

A nota acima não traz conclusões: só mostra o resultado de uma grande pesquisa. Mas é interessante verificar que a grande promessa de Bolsonaro, o combate à corrupção, até agora, na opinião dos eleitores, não rendeu frutos.

Rachadinha no poder

É guerra aberta. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desativou boa parte do aparato de combate às queimadas por falta de recursos (a mesma briga de há poucas semanas). A colunista Bela Megale, de O Globo, publicou nota dizendo que há gente no Governo acreditando que Salles estica a corda, testando a força dos militares. Salles atribuiu a informação da nota ao general chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e o acusou de adotar “postura de Maria Fofoca”. Até aí, normal: os ministros de Bolsonaro brigam muito. Mas a briga cresceu: e os olavistas, os “ideológicos”, os “radicais” se puseram ao lado de Salles contra os militares. Houve quem chamasse Ramos de “Maria Fifi”. Eduardo Bolsonaro ficou com Salles.

Rachadinha profunda.

Tá faltando um

E o general Mourão, vice-presidente da República, encarregado de tomar conta da Amazônia? Na última briga de Salles por falta de dinheiro, foi ele que segurou os dois lados. Mourão está quieto. Logo agora, que Bolsonaro deixa claro que será candidato à reeleição, mas não quer Mourão de vice! De que lado vai ficar? Seu futuro político também está em discussão. Mourão, se for candidato à Presidência, provoca uma divisão no bolsonarismo.

E Bolsonaro?

Os filhos fecharam com Salles, contra o general Ramos. Bolsonaro nada falou. Mas convidou Ramos para acompanhá-lo, na manhã de sexta, à festa do Dia do Aviador, marcada pelo voo inaugural em Brasília do caça Gripen.

A guerra da vacina

Guerra da vacina? Besteira: o presidente Bolsonaro está em guerra contra o governador paulista João Doria, que identifica como adversário na eleição presidencial (e, a julgar pela raiva com que atua, deve julgá-lo forte), não contra a vacina criada na China. Se o problema fosse a China, Bolsonaro também não aceitaria a vacina desenvolvida pelo Imperial College de Oxford e o laboratório Astra-Zeneca. Boa parte dos produtos farmacêuticos desta vacina é comprada na China. O problema não é a China, é a eleição.

Muy amigos (goooood fellows)

Foi só a missão diplomática americana que veio pedir apoio na guerra à Huawei chinesa deixar o Brasil que os EUA começaram a investir – investir contra a economia brasileira: impuseram sobretaxa de 50% às importações de chapas de alumínio aqui produzidas. Segundo a Associação Brasileira do Alumínio, a sobretaxa inviabiliza as exportações para o mercado americano, até agora o maior cliente do Brasil. Isso ocorre junto com a assinatura do acordo brasileiro-americano sobre redução de obstáculos ao comércio.

Mas a aliança existe

Mas não nem tudo é dificuldade entre Brasil e EUA: nesta semana, em reunião na Suíça, ambos, mais 30 aliados, se aliaram no Consenso de Genebra, união internacional contra o aborto. Uganda, Hungria, Egito e Indonésia, com Brasil e EUA, lideraram a criação do Consenso de Genebra. Pelos EUA, lá esteve pessoalmente o secretário de Estado Mike Pompeo. Pelo Brasil, por vídeo, o chanceler Ernesto Araújo e a ministra Damares.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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