Crenças populistas perderam apoio considerável na Europa ao longo do último ano, segundo apontou ampla pesquisa realizada pelo instituto YouGov em vários países.
O YouGov-Cambridge Globalism Project, levantamento envolvendo cerca de 26 mil pessoas em 25 nações e feito em parceria com o jornal britânico “The Guardian”, mostrou uma queda nas tendências populistas neste ano em todos os oito países europeus onde a pesquisa foi realizada em 2020 e no ano passado, podendo, portanto, ser comparados.
O instituto usa como base para o levantamento posições tipicamente populistas sobre uma série de questões, da imigração à vacinação, redes sociais e globalização. Os entrevistados são questionados sobre se concordam ou não com cada uma dessas declarações.
Realizada entre julho e agosto deste ano, a pesquisa descobriu que no Reino Unido, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Polônia, Espanha e Suécia – e também nos não europeus Austrália, Canadá e Estados Unidos – menos pessoas concordaram com a afirmação de que “o poder de alguns interesses especiais impede nosso país de fazer progressos”.
Em alguns países a queda foi acentuada: de 33% para 22% na Dinamarca, ou 11 pontos percentuais a menos entre 2019 e 2020, além de declínios de nove pontos percentuais no Reino Unido, nove pontos na Alemanha, oito na França, seis na Itália e quatro na Polônia.
A pesquisa apontou quedas semelhantes no apoio a outras declarações consideradas de visão populista – incluindo uma baixa de 20 pontos percentuais na Dinamarca e 15 na Alemanha para a ideia de que “muitas informações importantes são deliberadamente ocultadas do público por interesses próprios”.
Declínios significativos foram observados ainda em apoio à visão de que “meu país está dividido entre pessoas comuns e elites corruptas que as exploram”: foram 11 pontos percentuais a menos na Dinamarca, nove pontos na Alemanha, sete na Itália e cinco na França.
Também houve queda, mas menos acentuada, no apoio à declaração de que “a vontade do povo deveria ser o princípio mais elevado da política deste país”: oito pontos percentuais na Polônia, três na Alemanha e dois na Itália.
Apesar das quedas observadas entre 2019 e 2020, os níveis de apoio às afirmações consideradas populistas permanecem altos em vários países. Em sete das oito nações europeias consultadas, entre 60% e 74% dos entrevistados disseram concordar que a “vontade do povo” deveria prevalecer.
Contudo, diferenças consideráveis foram vistas entre os países. Por exemplo, 56% dos entrevistados na França e 66% na Espanha concordaram que seu país estava dividido entre pessoas comuns e uma elite corrupta, contra 34% na Suécia e 18% na Dinamarca.
Imigração
A imigração – uma questão política profundamente explorada por todos os partidos populistas de direita da Europa – é um dos pontos-chave da pesquisa do YouGov.
Em cinco países europeus – além de EUA, Canadá e Austrália –, caiu a proporção de pessoas que concordam com a declaração de que “os custos da imigração superam os benefícios”. Foram sete pontos percentuais a menos na França e na Itália, e cinco na Alemanha.
Por outro lado, questionadas sobre migrações futuras a seus respectivos países, em sete das oito nações europeias mais pessoas apoiaram um corte no número de imigrantes. Na França, por exemplo, 51% dos entrevistados disseram que a imigração deveria ser reduzida no futuro, enquanto em 2019 esse índice havia sido de 36%.
O sentimento anti-imigração também se manteve forte na Suécia, onde 65% dos entrevistados disseram que menos migrantes deveriam ter permissão para entrar no futuro, ante 58% no ano passado. Os números são semelhantes na Itália: 64% em 2020, contra 53% em 2019.
O país onde uma onda anti-imigração foi mais observada é a Grécia, incluída na pesquisa pela primeira vez em 2020. Quase quatro em cada cinco entrevistados querem uma redução no número de imigrantes chegando ao país, com 62% dizendo que esse corte deve ser “muito alto”.
Entre os oito países europeus pesquisados, apenas a Polônia contrariou essa tendência: 32% concordam que a imigração deve ser reduzida no futuro, contra 37% em 2019.
Onda populista
O populismo cresceu rapidamente como força política na Europa nos últimos anos. O apoio a partidos populistas em eleições nacionais em todo o continente aumentou de 7% para mais de 25% nas últimas duas décadas.
Líderes populistas de direita e extrema direita – como Matteo Salvini na Itália e Viktor Orbán na Hungria – surgiram em vários países, com partidos populistas passando a integrar o governo em quase uma dúzia de nações europeias.
Na Alemanha, o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) entrou pela primeira vez no Parlamento em 2017 e já é dono da terceira maior bancada do Bundestag. (Com agências internacionais)
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