No Brasil, marqueteiro tem como especialidade primeira embrulhar o engodo em papel de presente. Não importa a cangalha ideológica do candidato nem o cargo pretendido, pois a missão é fisgar o eleitor com a isca da promessa absurda, com a oferta de um País de Alice que nunca chega.
Responsável pela campanha de Celso Russomanno (Republicanos), derrotado na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o marqueteiro Elsinho Mouco disse na noite de domingo (15) que o cliente perdeu por ter sido leal ao presidente Jair Bolsonaro, “pé frio” que começa a fazer concorrência a um conhecido roqueiro .
Mouco elencou três motivos que levaram o candidato ao fracasso nas urnas paulistanas: “assumir o CRmito, a pouquíssima estrutura financeira (e partidária) e o mínimo de tempo de TV tiraram o brilho e a chance de Russomanno”.
Para o marqueteiro, “assumir o CRmito” é associar sua imagem à de Bolsonaro e não abandoná-lo diante do efeito nefasto da rejeição do presidente da República, em especial na cidade de São Paulo, na candidatura de Russomanno, que começou a campanha com 29% de intenção de voto, mas terminou a disputa em quatro lugar, com 10,5% dos votos válidos. Ou seja, o efeito Bolsonaro foi devastador.
“Russomanno, além da marca de defensor do consumidor, sai dessa campanha com um atributo que não é tão natural na política: fidelidade, lealdade. Um candidato fiel a seu público, fiel a seu presidente”, destacou Elsinho Mouco.
Admitir a derrota é um fato positivo, mas grandeza maior é não querer justificar o fracasso com alegações que fogem à realidade. Afirmar que Russomanno perdeu a disputa pela prefeitura da maior cidade brasileira em razão da rejeição de Bolsonaro é se recusar a enxergar o óbvio.
Celso Russomanno é conhecido em São Paulo por largar na frente em campanhas eleitorais e com o avanço da campanha derreter à sombra de escândalos e confusões que ainda carecem de explicações. Além disso, foi falta de visão política e irresponsabilidade eleitoral associar a imagem do candidato à do presidente da República, que desde a posse vem colecionando absurdos dos mais variados. Além disso, Bolsonaro é “persona non grata” na capital paulista, principalmente entre os formadores de opinião.
Em que pese o respeito que Elsinho Mouco merece como profissional, falar em lealdade e fidelidade é emprestar ao candidato derrotado a pecha de traído. Isso porque Bolsonaro, ao perceber que Russomanno não chegaria ao segundo turno da eleição paulistana, apagou de suas redes sociais, no sábado (14), pedido para que seus seguidores votassem no candidato do Republicanos.
O presidente, que saiu das eleições municipais com seu capital político ainda mais arranhado, ignorou conselhos de pessoas próximas para não se envolver no processo eleitoral de 2020, mas a obsessão por novas frentes de combate, principalmente com o governador João Dória Júnior (PSDB), o fez avançar na seara do risco previsto. Em suma, Bolsonaro saiu menor do que entrou na candidatura de Russomanno.
A derrota de Celso Russomanno mostra de forma inequívoca que o auxílio emergencial, pago durante a pandemia do novo coronavírus com dinheiro público – é importante ressaltar –, pode ter contribuído para um “upgrade” na popularidade de Bolsonaro, mas não ganha eleição. E o presidente da República que se cuide, pois esmola social não garante reeleição.
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