Que o presidente Jair Bolsonaro é movido por uma mistura de ignorância e estupidez todos sabem, mas não se deve levar suas declarações como baliza do cotidiano, em especial quando o assunto é a pandemia do novo coronavírus, assunto que o chefe do Executivo federal se recusa a analisar sob a ótica da ciência. Em outras palavras, com Bolsonaro o Brasil assumiu definitivamente a condição de picadeiro tropical.
A maneira como o presidente da República vem tratando a possibilidade, cada vez mais real, de uma segunda onda de Covid-19 no país confirma sua irresponsabilidade genocida, não sem antes comprometer sobremaneira seu projeto de reeleição, que começou a cambalear no rastro dos resultados das recentes eleições municipais, com direito a estrondosa derrota do bolsonarismo.
Como se não bastasse o revés que a eleição presidencial americana impôs ao mimado Donald Trump – seu mentor e negacionista de primeira hora da Covid-19 –, Bolsonaro insiste em tratar com deboche a mais grave crise sanitária do século.
Há dias, o presidente brasileiro classificou como “conversinha” a preocupação das autoridades de saúde com uma segunda onda de Covid-19, algo que está se confirmando de maneira assustadora nos principais hospitais de várias cidades. Agindo com super-herói de camelô mais uma vez exalando uma masculinidade que começa a ser alvo de questionamentos, Bolsonaro disse que diante da pandemia o Brasil não pode ser um “país de maricas”.
O viés pífio do governo é tamanho e tão devastador, que até mesmo integrantes da equipe econômica, liderada pelo ainda ministro Paulo Guedes, o teórico de plantão, começa a palpitar em assuntos relacionados ao novo coronavírus. Estafetas de Guedes estão a dizer que são mínimas as chances de uma segunda onda de Covid-19 prosperar no Brasil, pois, na opinião desses gênios de araque, a população adquiriu a chamada “imunidade de rebanho”.
A equipe econômica não conseguiu resolver os problemas que lhe competem – como reverter a crise e gerar empregos de forma sustentável –, mas ousa fazer prognósticos acerca de uma pandemia que vem surpreendendo os mais renomados especialistas em infectologia.
Na maior cidade do País, São Paulo, hospitais privados e de ponta começam a registrar congestionamento de pacientes internados com Covid-19, enquanto alguns conhecidos colégios particulares suspenderam as aulas presenciais por causa da infecção de alunos que participaram de seguidas festas, com a presença de centenas de estudantes.
Pessoas próximas ao presidente esperam que o governo adote as medidas necessárias para minimizar – talvez conter – uma segunda onda de Covid-19, mas esses esperançosos não estão convictos de que isso de fato ocorrerá, até porque Bolsonaro, se assim agisse, assumiria o risco e as consequências de uma derrota política sem precedentes. Em suma, ele se transformaria em um ser político desprezível, muito além do que já é.
O impasse repousa na possibilidade de novamente a economia ser impactada pela pandemia, na esteira de possíveis isolamentos decretados por governadores e prefeitos. Na cidade São Paulo, médicos e especialistas começam a cobrar das autoridades um novo “lockdown” como forma de os hospitais conseguirem lidar com o elevado número de internações pela doença que chacoalhou e ainda chacoalha o planeta.
O problema maior, para piorar um cenário que beira a tragédia, é que Bolsonaro saiu da recente cúpula dos Brics, realizada virtualmente na terça-feira (17), como o super-homem dos trópicos. Isso porque o presidente da Rússia, Vladimir Putin, um tirano tresloucado disfarçado de democrata, exaltou a masculinidade do homólogo brasileiro e a forma eficaz enfrentou a pandemia.
A esperança – anoréxica, é verdade –, repousa na possibilidade de o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, general especialista em logística, adotar as medidas necessárias para enfrentar uma segunda onda de Covid-19. Isso porque Pazuello contraiu o novo coronavírus e conhece o poder de destruição do SARS-CoV-2. A grande questão que preocupa os brasileiros de bem é que o ministro da Saúde é mais um sabujo fardado que bate palmas para maluco dançar. Enfim, mesmo Deus sendo brasileiro, como dizem, salve-se quem puder.
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