França condena 14 pessoas por ataques ao Charlie Hebdo e a mercado judeu em 2015

 
Uma corte de Paris decidiu nesta quarta-feira (16) condenar, com sentenças que variam de quatro anos de detenção à pena de prisão perpétua, 14 pessoas que agiram como cúmplices de três islamistas radicais armados que massacraram cartunistas do jornal satírico Charlie Hebdo e clientes de um supermercado judeu no início de 2015.

A Justiça francesa concluiu que eles ofereceram apoio logístico e armas aos irmãos Said e Cherif Kouachi, que realizaram o massacre no periódico, e a Amedy Coulibaly, que matou quatro homens judeus no supermercado kosher. Os três acabaram mortos por policiais franceses após os ataques.

Hayat Boumeddiene, viúva de um dos terroristas, foi condenada a 30 anos de prisão, em um julgamento à revelia. Ela fugiu para a Síria e ainda é dada como viva. Dois homens que a ajudaram a fugir da França também foram julgados à revelia, mas são dados como mortos na Síria. Um deles, Mohamed Belhoucine, recebeu uma sentença de prisão perpétua.

Os outros 11 réus estavam presentes no julgamento. Entre eles Ali Riza Polat, considerado pelos promotores o braço direito de Coulibaly e que foi condenado a 30 anos de prisão. A corte rejeitou algumas denúncias relacionadas a terrorismo apresentadas pelos promotores contra alguns dos réus. As condenações foram divulgadas pela imprensa francesa.

Os ataques

Dezessete pessoas foram mortas durante os três dias de ataques em janeiro de 2015. Primeiro, os irmãos Kouachi massacraram 12 pessoas na sede do Charlie Hebdo, que havia publicado cartuns sobre o profeta Maomé.

No dia seguinte, Coulibaly matou uma policial francesa, após não ter conseguido atacar um centro comunitário judeu no subúrbio de Montrouge, e depois invadiu o supermercado Hyper Cacher e assassinou quatro homens judeus.

Os irmãos Kouachi afirmaram que estavam agindo em nome da Al Qaeda, enquanto Coulibaly havia jurado lealdade ao grupo Estado Islâmico.

Os ataques foram seguidos por uma série de atrocidades cometidas por islamistas radicais que deixaram mais de 230 mortos na França em 2015 e 2016.

 
Traumas

O julgamento, que durou três meses devido a interrupções por causa da Covid-19, trouxe novamente à tona o horror dos ataques de 2015.

“O ciclo de violência, que começou na redação do Charlie Hebdo, será finalmente fechado”, escreveu em um editorial o editor-chefe da publicação, Laurent “Riss” Sourisseau, que foi gravemente ferido durante o massacre.

“Pelo menos sob a perspectiva da lei penal, porque sob a perspectiva humana as consequências nunca serão apagadas, como o depoimento das vítimas no julgamento demonstrou”, afirmou.

Zarie Sibony, que trabalhava como caixa no Hyper Cacher, descreveu como teve que andar sobre corpos nos corredores do supermercado durante as quatro horas de confronto entre Coulibaly e a polícia.

Entre os mortos no ataque ao Charlie Hebdo estavam alguns dos mais celebrados cartunistas franceses, como Jean Cabut, conhecido com Cabu, de 76 anos, Georges Wolinski, de 80 anos, e Stephane “Charb” Charbonnier, de 47 anos.

Liberdade de expressão

Christophe Deloire, chefe do grupo que defende a liberdade de expressão e diretor do Repórteres Sem Fronteiras, considerou o resultado do julgamento positivo. “É uma prova de que extremistas violentos não têm a última palavra. Graças à Justiça, é a liberdade que tem a última palavra”, ele escreveu no Twitter.

Para marcar o início do julgamento, em 2 de setembro, o Charlie Hebdo republicou os cartuns do profeta que enfureceram muçulmanos em 2015. E, na capa da edição para registrar as condenações, a publicação, em seu estilo provocativo, publicou uma imagem de Deus sendo conduzido em uma viatura policial sob o título “Deus é colocado em seu lugar”. (Com agências internacionais)

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