Na contramão do discurso negacionista de Jair Bolsonaro, o vice-presidente da República, Antônio Hamilton Mourão, disse nesta segunda-feira (11) que pretende tomar a vacina contra Covid-19. A declaração foi dada a jornalistas quando Mourão retornava ao trabalho, depois de ficar afastado por duas semanas se recuperando da doença causa pelo novo coronavírus.
“[Pretendo tomar a vacina] dentro da minha vez. Eu sou grupo dois de acordo com o planejamento [do Ministério da Saúde]. Não vou furar a fila, a não ser que seja propagandística”, disse o vice, mencionando a possibilidade de tomar vacina antes do prazo previsto como forma de incentivar a população a aderir à imunização.
“Eu acho que a vacina é para o País como um todo, uma questão coletiva, não é individual. Indivíduo aqui está subordinado ao coletivo, nesse caso”, completou o vice, que disse ter perdido dois amigos para a Covid-19.
Contrariando Bolsonaro
Bolsonaro tem afirmado de forma insistente que não pretende se vacinar, justificando que essa é uma decisão que diz respeito somente a ele. “Eu não vou tomar vacina e ponto final, problema meu”, disse o presidente da República em dezembro.
O chefe do Executivo federal tem alimentado temores infundados sobre os imunizantes. Em dezembro, ao reclamar das condições impostas pela empresa Pfizer para a compra de vacinas, Bolsonaro chegou às raias do absurdo: “Se você virar um jacaré, é problema seu.”
Simultaneamente, redes sociais ligadas ao bolsonarismo têm despejado na internet todo o tipo de informação paranoica sobre vacinas, como fantasias delirantes sobre imunizantes com chips para controle de mente. Seu governo também tem sido acusado de não ter feito um planejamento adequado para iniciar a vacinação.
A posição de Bolsonaro também contrasta com outros líderes mundiais, que estiveram entre os primeiros a tomar a vacina para incentivar suas populações. Entre eles estão até figuras próximas ideologicamente do presidente brasileiro, como o vice-presidente americano, Mike Pence, e o premiê israelense, Benjamin Netanyahu. Especialistas alertam que a vacinação em massa é fundamental para que o Brasil deixe a pandemia para trás e comece a recuperação econômica.
Ainda nesta segunda-feira, Mourão deu detalhes do seu período de afastamento. Diagnosticado com o coronavírus em 27 de dezembro, o vice afirmou ter passado três dias com sintomas mais pesados, mas em seguida melhorou. No que parece ter sido um aceno ao bolsonarismo, ele afirmou que tomou uma “medicação preconizada”, incluindo a hidroxicloriquina, o medicamento sem eficácia comprovada que é promovido pelo presidente como “cura”.
Vacina da Pfizer
Em uma entrevista à Rádio Gaúcha concedida nesta segunda-feira, Hamilton Mourão também disse que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, determinou que a próxima reunião com representantes da farmacêutica Pfizer deve ser gravada “para evitar mal-entendido”.
O governo brasileiro e a empresa têm trocado acusações sobre a compra da vacina desenvolvida pelo laboratório em parceira com a empresa alemã Biontech. Pazuello vem se queixando de condições impostas pela Pfizer e disse que a empresa não ofereceu doses suficientes.
No entanto, a Pfizer vem rebatendo publicamente as acusações do governo, afirmando que fez três diferentes propostas ao Brasil para o fornecimento de 70 milhões de doses. A primeira proposta foi feita em agosto, com previsão de entrega das primeiras vacinas em dezembro, o que teria permitido o início da imunização no país já no mês passado. No entanto, nenhum contrato foi assinado.
Dezenas de outros países compraram as vacinas da Pfizer e já iniciaram a vacinação, entre eles México, EUA, Alemanha, Reino Unido e Omã. (Com agências de notícias)
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