Sem vacinas em quantidade suficiente, governo insere caminhoneiros no grupo de prioritários

 
O governo do presidente Jair Bolsonaro, o negacionista de plantão, criou um grupo prioritário para vacinação contra Covid-19 com 14,8 milhões de pessoas, respeitando regras sanitárias. Essa iniciativa, que marca a incompetência que reina no Ministério da Saúde, em especial a doa ainda ministro Eduardo Pazuello, mostra que o amadorismo que move o governo.

Enquanto elaborava a lista de prioritários, o governo não se preocupava com um detalhe importante: a compra de vacinas para imunização. Considerando a extensa maioria das vacinas requer a aplicação de duas doses, como forma de alcançar a eficácia detectada nos estudos científicos, de chofre o Brasil precisa de 29,6 milhões de doses de vacinas.

Tomando por base que o Instituto Butantan disponibilizou ao Ministério da Saúde 6 milhões de doses da Coronavac (Sinovac) e ainda nesta sexta-feira chegarão ao País 2 milhões de doses da Covishield (AstraZeneca/Oxford), o Brasil tem, de largada, um déficit de quase 12 milhões de doses.

Como se solucionar a carência de vacinas no planeta fosse algo tão simples quanto a fala tosca e irresponsável de Pazuello (general da ativa), o governo começou a divulgar nesta sexta-feira (21) uma campanha publicitária que trata do processo de vacinação, que corre o sério risco de ser interrompido a qualquer momento por falta de imunizantes. Isso porque o ministro da Saúde destaca em seu currículo ser especialista em logística.

Para piorar o que já era sabidamente ruim, o governo cedeu à pressão dos caminhoneiros e inseriu a categoria na lista de prioritários para a vacinação contra o novo coronavírus. Em que pese o fato de os caminhoneiros ingressarem somente na fase 4 do grupo prioritário, o governo terá de conseguir em tempo recorde mais 4 milhões de doses de vacina, já que a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) espera que 2 milhões de transportadores rodoviários sejam vacinados.

 
Temendo a paralisação da categoria, o governo Bolsonaro oficializou a “furação da fila de imunização”. Longe da seara das bizarrices palacianas, essa manobra sórdida configura crime, previsto no Código Penal. Ultrapassa as fronteiras do o inaceitável o fato de o governo ser refém de determinada categoria profissional.

Contudo, como no Brasil nem tudo está tão ruim que não possa piorar, o governo Bolsonaro concordou em inserir no bloco dos prioritários os motoristas e cobradores que atuam no transporte coletivo rodoviário. Em suma, a categoria, como um todo, será vacinada antes de 100 milhões de brasileiros, que deveriam receber do governo, caso esse fosse minimamente sério, o mesmo tratamento dispensado aos transportadores rodoviários e profissionais do transporte coletivo.

De nada adianta vacinar motoristas e cobradores se os passageiros também não forem imunizados. De nada adianta vacinar os caminhoneiros se os trabalhadores não conseguirem produzir – por causa da pandemia – o que deve ser transportado. Que o governo Bolsonaro é um enorme e preocupante “faz de conta” o planeta já percebeu, mas o amadorismo de algumas autoridades chega a assustar.

É importante lembrar, até porque as autoridades palacianas devem desconhecer o fato, as vacinas disponíveis não impedem a transmissão do novo coronavírus, apenas evitam casos graves da Covid-19 e óbitos pela doença.

Para finalizar, apesar de defendermos a ciência, não custa ressaltar que a Constituição Federal estabelece no artigo 5º (caput) que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Porém, nessa república bananeira prevalece a essência da fábula “Revolução dos Bichos” (ou “Triunfo dos Porcos”), obra de George Orwell: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”. Enfim, eis o Brasil!

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